No Brasil, 40% das pessoas desistiram de comprar em sites estrangeiros devido a inconsistências na comunicação e a tradução ruim para o português. Esse fato, além de trazer prejuízos financeiros para as empresas, mostra que traduções incorretas de sites podem impactar a experiência do consumidor e a sua jornada de compra.
É o que mostra uma pesquisa feita em janeiro pela Sherlock Communications com 3,1 mil participantes no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. O objetivo do estudo foi analisar como os erros de comunicação online podem ter um impacto direto nas vendas, fornecendo insights sobre as preferências dos consumidores e o impacto da comunicação nas decisões de compra online.
Problemas de tradução
No Brasil e nos outros países pesquisados, 4 em cada 10 consumidores evitaram clicar em anúncios online devido a traduções imperfeitas para o seu idioma nativo. Quando questionados sobre como se sentiram em relação às empresas após os problemas no site, os brasileiros afirmaram que: perderam a confiança na empresa em questão (43%); sentiram medo de ser um golpe (40%); compraram do concorrente (27%); e alertaram aos amigos para não realizarem compras no e-commerce (11%).
Os problemas de tradução também mostraram impactos na imagem e na reputação das empresas. Quando os brasileiros notam erros de comunicação em um artigo online, 30% comunicaram que não confiariam no artigo ou na empresa mencionada nele, enquanto 8% se sentiram insultados. Além disso, 36% disseram que já haviam decidido não clicar quando perceberam que as traduções para o português não eram perfeitas.
As principais motivações para os brasileiros não clicarem e crerem nos resultados obtidos com a pesquisa foram por não confiarem na má qualidade da tradução para o português (28%) e pelo fato dos valores serem exibidos em outras moedas que não o Real (26%).
Segundo dados da Abcomm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), o Brasil conta com 87,8 milhões de consumidores virtuais e o faturamento do e-commerce no País em 2023 foi de R$ 185,7 bilhões. O ticket médio foi de R$ 470 (um crescimento de 2% em relação ao ano anterior) e o total de pedidos foi de 395 milhões. Já o perfil dos compradores brasileiros, na maioria, são mulheres, da região Sudeste, que realizam compras pelo celular.
América Latina
Na América Latina, levando-se em consideração os países analisados, 77% dos entrevistados desistiram de comprar no comércio eletrônico estrangeiro devido a mensagens inadequadas nos sites, incluindo traduções automáticas, imagens não representativas e outros erros evitáveis. Além disso, apenas 5% das pessoas disseram que erros de comunicação, incluindo traduções ruins, uma mistura de mais de um idioma e informações ou imagens com erros ou representações culturais incorretas, não afetariam sua opinião sobre uma empresa internacional.
Nos seis países pesquisados, as pessoas comentaram gastar uma média de US$ 587 por ano em compras online, com os brasileiros ultrapassando a tendência com um gasto digital anual de US$ 656. No entanto, as traduções inadequadas podem afetar esses ganhos no lado dos comerciantes: donos de e-commerce internacionais afirmaram que perderam, em média, US$ 154 por pessoa, simplesmente porque o site não era suficientemente adequado à língua local.
Quanto aos setores atingidos pelos erros de comunicação, as seções de moda foram as mais impactadas: 28% dos entrevistados latino-americanos decidiram não comprar em seus sites, enquanto que 18% informaram não comprar em sites de varejo e 16% em sites de saúde e beleza.
Anúncios e resultados de pesquisa
Antes mesmo de os consumidores chegarem ao site de um varejista, eles normalmente encontram as empresas internacionais por meio de anúncios e resultados de pesquisa online. Quatro em cada cinco dos entrevistados (79%) em toda a América Latina relataram evitar clicar em anúncios de empresas internacionais devido a mensagens inadequadas, enquanto 37% não acessaram anúncios que empregavam traduções de má qualidade para a sua língua nativa, porque suspeitavam que poderia ser uma fraude.
Quando se trata de resultados de mecanismos de pesquisa, o relacionamento com o consumidor é igualmente frágil. As primeiras impressões têm um grande peso e os erros de comunicação são um desestímulo. Quatro em cada cinco (79%) latino-americanos decidiram não clicar num resultado em buscadores de pesquisa ou nas redes sociais quando procuravam por um produto ou serviço – no valor médio de 160 dólares – devido a falhas nas mensagens.
De forma geral, a pesquisa apontou que um ponto desagradável para os consumidores latino-americanos ao revisar os resultados de motores de busca foi a publicação de preços em moedas que não eram locais. Empresas internacionais devem entender que a maioria das pessoas na América Latina deseja saber o preço de um produto ou serviço na moeda local e não querem o trabalho extra de calcular o preço.
A localização supera as traduções online
Algumas das conclusões do estudo mostram que, em uma região repleta de nuances linguísticas, o Google Tradutor não é mais suficiente. Para ecoar junto aos consumidores latino-americanos, as empresas internacionais devem adotar a localização. Tradutores nativos, que entendem gírias populares e outras peculiaridades culturais, são essenciais para evitar situações embaraçosas.
Compreender a diversidade linguística na região também é crucial. A maioria das empresas sabe que o espanhol não é a única língua da América do Sul, mas poucos reconhecem que o português não é a única alternativa. A América Latina abriga quase 250 idiomas e dialetos, de acordo com estimativa recente do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Dessa forma, investir em línguas locais pode diferenciar uma empresa dos concorrentes.
“É difícil mensurar a importância do idioma nesta região. As empresas que tentam improvisar usando um tradutor não nativo ou, pior ainda, a IA, estão fadadas ao fracasso. Como mostra o nosso último relatório, os consumidores da América Latina são implacáveis quando se trata de erros evitáveis e comunicações insuficientes. É por isso que sempre recomendamos às empresas internacionais que invistam em especialistas locais que não apenas traduzem, mas interpretem e compreendam as nuances culturais”, afirmou Patrick O’Neill, sócio-gerente da Sherlock Communications.
As conclusões do relatório ainda demonstram que, em um cenário de e-commerce em constante crescimento, as empresas que dão prioridade à comunicação eficaz e à compreensão cultural terão uma probabilidade muito maior de prosperar na América Latina. Ao respeitar as línguas locais e celebrar a diversidade de dialetos e culturas regionais, as empresas internacionais podem criar ligações duradouras com os consumidores latino-americanos.