Responsável por cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o agronegócio tem sido protagonista de diversos aspectos da realidade brasileira, liderando também as exportações nacionais e outros índices econômicos.
Apresentado e mediado pela editora de Agro do jornal Valor Econômico, Fernanda Pressinott, o painel “Por dentro do Agrotech: o que há de novo no campo?” realizado no Innovation Xperience Conference – uma iniciativa do Grupo Innovation Xperience (Grupo iX) – debateu os desafios do setor frente às mudanças climáticas, acordos de clima e o crescimento da discussão sobre sustentabilidade.
“É inegável que temos um avanço em biotecnologia, que trouxe mais produtividade sem aumentar a área plantada, mas também precisamos transformar o agricultor brasileiro em empresário, porque isso vai fazer com que ele passe a adotar estratégias para pensar e adotar a disrupção e adotar novas tecnologias para mitigar os impactos do colapso climático”, analisa Alex Kuribara, diretor de planejamento estratégico da AgroGalaxy.
Cofundador e diretor de relações institucionais da Solinftec, Anselmo Del Toro Arce concordou com o porta-voz da startup de marketplace para o agronegócio. “Temos o desafio de diminuir o impacto ambiental sem diminuir a produtividade, mas também precisamos de uma mudança estrutural, para que as nossas decisões sejam tomadas com base em evidências, não apenas em opiniões, e que seja possível deixar de lado velhas práticas que não são benéficas para o setor”, esclareceu.
Segundo Mayla Takahashi, head de Experiência com Cliente LATAM da divisão agro da BASF, o uso de dados é importante, mas também requer uma conexão da indústria com o agricultor. “Nós não fazemos inovação para a Faria Lima, para a Berrini. Fazemos para o campo. É lá que a coisa acontece, então conectar a indústria com o agricultor para implementar soluções é primordial para entender se ela será eficaz”, analisou.
A conexão com o produtor é parte fundamental do trabalho da Embrapa, presente no painel por meio de seu chefe adjunto de Transferência de Tecnologia, Vitor Mondo. A essência da empresa, fundada em 1973, é beneficiar o produtor com conhecimento e oferecendo uma base tecnológica para o desenvolvimento do agronegócio. “Buscamos sempre institutos de pesquisa ou indústrias para a realização de novas pesquisas e todas as novas políticas são sustentadas pela ciência”, enfatizou.
Os painelistas concordaram que, por se tratar de uma atividade familiar em boa parte do país, ainda existe uma barreira relacional que atrapalha a inovação, pois o agricultor precisa ‘ver para crer’, e só considera adotar uma nova tecnologia se acompanha seu uso em pessoas próximas.
“O agricultor ainda é muito cético em relação às novas tecnologias, claro, mas também sabemos que muitos ainda não entendem as soluções propostas e, além disso, há a barreira do crédito para conseguir aplicá-las na lavoura”, detalhou Alex Kuribara. “Nós já estamos em um cenário favorável, em que 66% dos agricultores do Brasil e da Argentina estão abertos à inovação, mas precisamos que o setor todo se disponha à disrupção”, comentou Mayla Takahashi.
Fernanda Pressinott destacou que os ciclos do agronegócio são mais longos, por isso é preciso mais tempo para analisar os resultados da inovação. “Não estamos falando de um oceano azul, mas de um oceano verde, de muitas possibilidades e oportunidades, mas que ainda não amadureceu. Precisamos cuidar da natureza, do campo, e sair da cidade para olhar o que pode ser feito ali”, concluiu Alex Kuribara.