Para que possamos entender a importância da liderança consciente, torna-se necessário analisarmos a evolução da sociedade nos últimos 40 anos. No passado, em um período pré-internet, a informação se disseminava através de poucos meios de comunicação. Como informação é poder, havia poucos atores definindo padrões de comportamento e arbitrando o certo e o errado. Isto criou uma abordagem enviesada da realidade, na qual uma elite determinava os padrões de comportamento aceitáveis. Tais padrões não necessariamente refletiam o perfil da sociedade, havendo pouca ou nenhuma margem para empatia ou reconhecimento das necessidades do indivíduo.
Com o advento da internet e das redes sociais, os indivíduos passaram a ter voz e opinião. Vimos o surgimento dos influenciadores digitais, que através do rapport com seus espectadores, fizeram com que estes se identificassem com seus comportamentos e pontos de vista. Isto trouxe uma necessidade de senso de pertencimento e as organizações tiveram que se adaptar a esta nova realidade, buscando abordar temas como diversidade e inclusão, por muito tempo negligenciados no mundo corporativo.
Não se trata de algo novo. A sociedade não mudou e a diversidade sempre existiu. A diferença é que finalmente tiramos as vendas dos nossos olhos e temos a consciência de que não podemos ignorar a necessidade de promovermos a inclusão no meio corporativo. Percebemos, portanto, que os meios de comunicação tradicionais perderam força e o indivíduo ganhou voz, quebrando paradigmas e promovendo a reflexão sobre valores e comportamentos.
Vivemos em um mundo no qual as novas gerações já cresceram inseridas no contexto digital e começam a ingressar no mundo corporativo. Portanto, vale refletir que o perfil atual da força de trabalho e do consumidor é sensivelmente distinto daquele para o qual as organizações se prepararam nas últimas décadas.
A chamada Geração Z busca um propósito, um sentido de pertencimento. Sendo assim, as organizações precisaram adaptar suas abordagens para atender as necessidades de uma sociedade com demandas individuais muito específicas. As estruturas organizacionais hierarquizada tradicionais precisaram se reinventar e migrar para um modelo mais flexível e ágil, visando lidar com as mudanças e incertezas.
Modelos matriciais enxutos se disseminaram, a fim de acelerar a velocidade de resposta às demandas da sociedade. Isto fez com que o líder precisasse se reinventar para ser bem sucedido em sua jornada. A autoridade foi substituída pela influência, cabendo ao líder ser um negociador habilidoso para conciliar interesses e gerir conflitos.
Dada a necessidade de um propósito maior, as novas gerações precisam ser convencidas quanto ao sentido e à missão da organizacional. Sendo assim, o líder necessita se conscientizar da necessidade da empatia e se desprender de modelos mentais pré-concebidos. É mandatório que o líder elimine preconceitos e entenda que todos são coerentes com suas próprias histórias e vivências.
Esta empatia é fundamental para a compreensão de que nenhuma empresa atingirá o crescimento sustentável sem diversidade e inclusão. Pontos de vista diversos são fundamentais em todos os níveis da organização, pois a empresa precisa ser um reflexo da sociedade para poder atender seus anseios de forma efetiva.
Com a valorização do indivíduo, as organizações precisaram repensar seus modelos produtivos para atender necessidades de customização em massa. No entanto, os recursos naturais, humanos e financeiros são limitados. Isto faz com que a sustentabilidade surja como um fator determinante nesta equação.
Caso o modelo de consumo se mantenha inalterado, enfrentaremos o desafio de manutenção da lucratividade em um cenário insustentável do ponto de vista do crescimento e longevidade populacional. Isto fez com que repensássemos as estratégias organizacionais para entendermos nosso papel e a finalidade do que fazemos. Ao invés de criarmos desejos e demandas de consumo, entendemos que precisamos solucionar problemas e tornar a vida das pessoas mais fácil.
Isto fez com que culminássemos na era do “As a Service”, na qual é mais importante resolver a dor do cliente do que gerar consumo. Compartilhar é mais valioso do que ter, pois democratiza o acesso às soluções que, no passado, teriam um custo elevado de aquisição e manutenção para o indivíduo.
Estas mudanças já representam um impacto significativo no mercado de trabalho. Não se trata apenas do surgimento e morte de profissões, mas sim da reformatação do modelo de trabalho. Com organizações mais enxutas e com o avanço tecnológico, haverá cada vez menos serviços dependentes de pessoas. Desta forma, cabe aos líderes compreender seu papel na promoção da educação e qualificação da força de trabalho. As posições do futuro precisarão de qualificação, pois a dependência do capital humano estará concentrada em atividades de alto valor agregado. Apenas com investimento em educação podemos evitar altas taxas de desemprego com pouca mão-de-obra qualificada disponível.
Não se trata de consciência social ou altruísmo, mas sim de uma questão de sobrevivência. Se não investirmos em educação, criaremos um cenário desafiador para nossos filhos e netos. O alto desemprego impactará a demanda ao mesmo tempo que a pouca mão-de-obra qualificada disponível impactará os custos de produção. A organização faz parte de um ecossistema e depende dele. Devolver à sociedade é mandatório para a perenidade e sustentabilidade de qualquer negócio.
Em tempos cada vez mais voláteis e incertos, a máxima de Heráclito se faz verdadeira: nada é permanente, exceto a mudança. Portanto, a adaptação se torna imperativa para a sobrevivência corporativa. Desta forma, não basta ao líder o chamado notório saber, tão valorizado antigamente. O líder consciente é aquele que exercita diuturnamente sua habilidade de “aprender a aprender”.
Artigo escrito por Juarez Borges Filho, Senior Director Global Entity Management (GEM) e Diretor Geral Brasil do PayPal