O Brasil possui atualmente cerca de 1,5 mil fintechs, de acordo com levantamento feito pela plataforma de inovação Distrito. O mesmo estudo mostra que as fintechs brasileiras lideraram os aportes recebidos pelas startups no ano passado. O segmento teve um total de R$ 9 bilhões investidos em 2022, quase 40% de todo o volume destinado às startups.
A expectativa para este ano é de que o mercado de fintechs continue crescendo, criando nichos e oferecendo oportunidades para empresas que apostam na inovação e na diversificação de produtos e serviços. Mas para onde caminha esse setor? Qual deve ser o papel dos órgãos reguladores? Como criar ao mesmo tempo um ambiente que seja aberto à inovação e menos restritivo na questão regulatória?
Para discutir essas e outras questões, o Movimento Inovação Digital (MID) – entidade que reúne mais de 150 empresas inovadoras – realizou o Podcast Digitalize. Na pauta, o cenário de fintechs e suas tendências.
“Muita coisa vem acontecendo com essas novas ferramentas digitais de pagamentos e de transações de moedas. Elas estão sendo acompanhadas de perto pelo Banco Central, que possui profissionais altamente capacitados”, afirmou Vitor Magnani, presidente do MID e apresentador do painel.
Cenário
A advogada Vanessa Fialdini, sócia da Fialdini Advogados, começou sua participação no podcast fazendo um overview do setor. De forma geral, ela explicou que o mercado de fintechs surgiu antes de 2010, ainda sem regulamentação. Naquela época, o sistema de pagamentos era basicamente concentrado nos bancos e havia um duopólio de credenciadoras.
“O Banco Central só começou a enxergar e regular esse mercado em 2013, quando veio o marco da regulamentação. Trata-se de um órgão muito atuante, que não impõe barreiras para a evolução do mercado”, contou Vanessa.
Posteriormente, o Bacen incluiu na regulamentação players como as subcredenciadoras e os marketplaces. Atualmente, além desses atores, o mercado conta com empresas emissoras de moedas eletrônicas, além de modalidades como o Pix e o Open Finance.
“O mercado é muito aberto, amplo e sujeito a regras. Para alguns produtos, primeiro é necessário pedir autorização do Banco Central para depois operar. Para outros, isso não é necessário”, disse a sócia da Fialdini Advogados.
Dupla regulação
Há também casos como a das fintechs de saúde, que estão sujeitas a mais de um órgão regulador, no caso o Banco Central e Agência Nacional de Saúde (ANS).
“Buscamos inspiração no mercado de saúde privado de países como Chile e Estados Unidos, que já ofereciam alternativas de pagamentos para clientes da saúde e do bem-estar”, contou Luiz Eduardo Marques, cofundador, CPO e CMO da Flip Saúde.
Segundo o executivo, ao analisar o segmento, a empresa constatou que as maiores necessidades das pessoas eram procedimentos cirúrgicos simples e de baixo risco. No entanto, elas acabavam não cuidando da saúde por falta de capacidade de pagamento e acesso ao crédito.
“Estruturamos um produto que passou a oferecer crédito de maneira fácil e rápido a essa comunidade, por meio de parceria com uma instituição financeira. Outros bancos já estão interessados em oferecer produtos nichados para a saúde. É uma operação com baixa inadimplência, ao contrário de outros produtos”, ressaltou Marques.
Criação de nichos
As fintechs de saúde são apenas um exemplo de nicho em que as empresas podem oferecer produtos e serviços financeiros. Na opinião de Rodrigo Soeiro, CEO e fundador da Monnos – plataforma que oferece soluções de blockchain e tokenização para o mercado B2B e B2C – e líder do Comitê de Payments e Fintechs do MID, o mercado de fintechs tende a criar vários nichos e abranger várias frentes de atuação.
“Vivenciamos um momento em que todas as empresas com uma comunidade representativa estão abrangendo outras frentes de atuação, como a financeira. É o que está acontecendo, por exemplo, com os marketplaces e com as empresas emissoras de moedas digitais. A tendência é todo mundo se tornar gestor de comunidades nichadas”, destacou Soeiro.
Como consequência, o CEO da Monnos acredita que o processo de fintechzação de nichos trará consigo desafios ainda maiores para os órgãos reguladores, “que vão ter que abranger mais papéis do que o que abrangiam até então”.
No caso da tokenização e da criptoeconomia, o desafio é regulamentar operações onde há a superação de barreiras de fronteira.
“O mercado de cripto não tem uma regulamentação muito clara para os players locais. É importante liberdade para poder inovar. Se houver muita regulação – com a roupagem de segurança – passaremos a ter um ambiente protegido e de difícil penetração. A criptoeconomia está vindo fortemente para a infraestrutura de pagamento. Assim, um ambiente aberto à inovação e menos restritivo é muito importante”, concluiu Soeiro.
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