Uma das características da tecnologia é a velocidade com que ela se transforma. Muitas vezes, a euforia de um lançamento e a quebra do seu encanto pode ocorrer em um período de tempo relativamente curto. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o metaverso e a realidade virtual (VR).
No entanto, graças aos avanços tecnológicos e o interesse crescente por produtos como óculos de realidade aumentada (AR ou XR), o cenário da realidade virtual ganhou uma nova chance. A Apple, inclusive, promete lançar seu headset de realidade aumentada ainda neste ano, juntando-se com outros modelos disponíveis no mercado. Como o próprio nome diz, esses dispositivos trazem funções que aumentam a realidade e adicionam novas aplicações como navegação, localização, tradução simultânea, entre outras.
“Eles podem ter um grande potencial de aderência ao público em comparação com os dispositivos de realidade virtual, já que têm a capacidade de combinar elementos virtuais com o ambiente real do usuário. Isso permite que os usuários interajam com informações digitais e objetos enquanto permanecem conscientes e conectados ao ambiente ao seu redor”, afirma José Terrabuio, fundador da Beenoculus, primeira empresa a lançar óculos de realidade virtual fabricado no Brasil.
Projetos em andamento
De acordo com a Bloomberg, o óculos da Apple será de realidade mista e terá um recurso que permitirá ao usuário mover-se entre a realidade virtual e aumentada. Quando em VR, ele estará totalmente imerso em seus aplicativos. Com o AR ativado, verá o mundo real ao seu redor de maneira semelhante às experiências ARKit em iPhones e iPads. “Essa possibilidade criaria novas experiências para o usuário e revolucionaria a forma como as pessoas interagem com a tecnologia e o mundo ao seu redor, gerando um interesse massivo pelo dispositivo e impulsionando sua adoção”, conta Terrabuio.
Na opinião do empresário, a Apple possui um ecossistema de aplicativos e serviços bem desenvolvido que poderia ser facilmente adaptado ao óculos de AR para oferecer experiências mais imersivas e envolventes. Isso inclui, por exemplo, aplicativos de produtividade, entretenimento, saúde e fitness.
“O óculos da Apple encontraria aplicações em uma ampla gama de setores, como educação, saúde, manufatura e varejo. Também poderia funcionar em conjunto com iPhones, iPads e Macs, criando um ecossistema de dispositivos ainda mais integrado e versátil”, aponta.
Além da Apple, o Google e a Meta também estão investindo para ampliar seu ecossistema de AR, incluindo o desenvolvimento de hardware, software e aplicativos. “Há projetos em diversos setores, como indústria, militar, saúde, educação e entretenimento. Com a realidade aumentada, não estaremos mais presos a uma tela, e o ambiente espacial a nossa volta será nossa interface”.
Terrabuio lembra que a Beenoculus lançou, no final do ano passado, o primeiro óculos de realidade virtual 3D brasileiro e que um dos braços da companhia – que possui uma estrutura de holding com três empresas operacionais – já atua com realidade aumentada. Trata-se da Junglebee, uma produtora de conteúdos XR.
“Até final do ano pretendemos fabricar mais dois modelos de óculos, um similar ao HTC para jogadores e outro para concorrer com o Quest 2 da Meta. Na área da educação, implantaremos uma plataforma com centenas de conteúdos em VR e, para os próximos anos, forneceremos uma solução de V-Learning End to End para o setor educacional”, revela.
Impactos da AR
A realidade aumentada, na opinião de Terrabuio, permite um rastreamento e detecção de objetos e ambientes ainda mais precisos, melhorando a experiência do usuário. Para ele, o avanço de plataformas como ARKit da Apple e ARCore do Google estão possibilitando a criação de aplicações de realidade aumentada cada dia mais sofisticadas e acessíveis para uma ampla gama de dispositivos.
Da mesma forma, a integração da AR com dispositivos IoT (Internet das Coisas) está permitindo a criação de soluções mais inteligentes e conectadas, fornecendo uma visão mais ampla dos dados e melhorando a eficiência em várias indústrias.
Segundo Terrabuio, as perspectivas para o futuro da realidade aumentada são promissoras. A tecnologia poderá ser utilizada para diversas finalidades. No ambiente de trabalho, por exemplo, para melhorar a eficiência e a segurança. Na área da saúde, para melhorar a formação de profissionais, auxiliar em procedimentos médicos e proporcionar experiências mais personalizadas para os pacientes.
Na educação, a AR pode torná-la mais interativa e envolvente, ao permitir que os estudantes explorem conceitos e ideias de maneira mais visual e prática em um ambiente espacial. Já na área do entretenimento e publicidade, com experiências imersivas e interativas para os usuários.
Desafios
Toda ferramenta tecnológica apresenta seus problemas ao longo do processo de aceitação e popularização. No caso do óculos de realidade mista ou aumentada, Terrabuio aponta como desafios, além da própria aceitação do mercado, as melhorias na duração da bateria, na resolução de tela e nas capacidades de rastreamento, a redução de custos e a resolução de questões relacionadas à privacidade e segurança.
Outro ponto importante refere-se à maneira como os novos produtos serão lançados no mercado. “As empresas devem ser responsáveis e cautelosas ao lançar produtos que podem invadir a privacidade do outro e considerar as implicações éticas, sociais e legais dessas tecnologias. Inovação antes da regulação é comum no mercado de tecnologia, visto a nova hype do GPT. Por isso, é preciso trabalhar em estreita colaboração com os órgãos reguladores para garantir que as preocupações sejam abordadas de maneira adequada”, conclui.