A integração entre as plataformas de saúde, com compartilhamento dos dados dos usuários, é a tendência mundial apontada pelos especialistas no painel “Open Health: competitividade e compartilhamento de dados em prol do cliente. Quais os caminhos e desafios?”, que ocorreu no Innovation Xperience Conference, evento do Grupo iX, correalizado em 2022 com a SP negócios. A iniciativa conta com o apoio do Movimento Inovação Digital e FecomercioSP.
Ainda que o objetivo da open health seja aumentar a agilidade do sistema e, por consequência, a qualidade dos serviços prestados, a implementação enfrenta entraves de natureza jurídica e tecnológica. “Acredito que o futuro da saúde seja figital, ou seja, vamos transitar entre o físico e o digital de maneira fluída. Ao aproveitar a capilaridade das farmácias (já que há uma em cada esquina), uma pessoa poderá fazer um exame de glicemia, por exemplo, e o resultado ficar disponível online para o cardiologista, que poderá estar a 300 quilômetros do local”, diz Fred Rabelo, co-fundador e atual CEO da plataforma Ti.Saúde.
Ele vislumbra o próprio usuário como impulsionador da digitalização. “A partir do momento em que o paciente percebe que economiza tempo e dinheiro com o prontuário eletrônico, que aborda integralmente a sua jornada e é acessível por todos os agentes do sistema de saúde, ele vai exigir que essa seja a regra”, aposta.
Já para o médico Thiago Júlio, sócio e diretor de estratégia médica da plataforma Memed, o usuário precisa ser convencido sobre as vantagens em potencial oferecidas pelo sistema. “A open health deverá se tornar abrangente aos poucos, à medida que as pessoas passam a acreditar que suas informações de saúde transitam de maneira segura. Aos agentes regulatórios compete conferir essa segurança”, diz. “Que tal começar com algo mais simples, como uma carteira de vacinação digital universal, na qual constem todas as vacinas?”, sugere Júlio. “Também gosto de olhar para o modelo americano, que afaga e ao mesmo tempo cobra. Aqui poderíamos aumentar a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) e dar acesso a ela a quem implementar a digitalização.”
Faz coro à ideia Pedro Dias, fundador da healthtech Mevo, cujo maior negócio envolve a validação da receita digital, que facilita a prescrição e a compra de medicamentos online. “A pandemia possibilitou que tivéssemos a receita digital em tempo recorde, por pura necessidade. Mas ela só chega a 10% da população. E não podemos depender tanto do governo. Precisamos que os agentes do setor privado estejam sentados à mesa para decidir as políticas públicas.”, aponta.
A voz dissonante vem de Carlos Pappini Jr, co-fundador e CEO da plataforma Conecta Médico, que defende uma atuação mais assertiva do poder público. “A iniciativa privada poderá ter uma grande atuação. No entanto, em larga escala, é tarefa do governo promover a transformação digital. Trata-se de um tema de saúde pública. Afinal, 77% dos brasileiros são usuários do SUS”, afirma.
“Se comparada ao sistema bancário que, hoje já interligado, chega ao open finance, percebemos que a rede de saúde, tanto pública quanto privada, ainda carece de maturidade digital. Claro, os pacientes mais novos vão embarcar rapidamente; os mais velhos virão em seguida. Porém, o governo terá que exigir, diz Paula Mateus, diretora de inovação da Amor Saúde e mediadora da conferência. Leandro Bissoli, sócio da Peck Advogados, com 18 anos de atuação na área jurídica, aponta o pouco uso da tecnologia e a falta de comunicação entre os players como as principais dificuldades para se chegar à interoperabilidade, que seria a completa integração entre clínicas, hospitais, laboratórios e farmácias. “O grande problema é que muitos hospitais e clínicas, notadamente os menores, ainda são desprovidos de sistemas digitalizados. É tudo anotado à mão. E ainda precisamos pensar na questão dos profissionais da saúde, que terão de lidar com prontuários digitalizados. Será que todos estão capacitados?”, questiona.
Acompanhe o painel na íntegra no nosso podcast ou no Youtube: