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Artigo: O poder das escolas de pensamento

Uma boa escola é aquela que promove o constante debate e que produzirá conceitos que podem defini-la ou mesmo modificar suas propostas. Ela abrirá caminhos para diálogo com outras escolas e proporcionará um contexto para constante evolução e desenvolvimento

Ao longo de vários séculos, artistas, pensadores, cientistas e, com destaque, filósofos, iniciaram movimentos de discussão sobre um tema, um esforço ou uma visão de futuro, que objetivava desenvolver uma discussão para que aquele tema fosse esclarecido e deixasse, em todos os detalhamentos, suas repercussões de aprendizado e evolução. Em muitos casos, diz-se que foi fundada uma “escola” de pensamento em torno da concepção ou ideia.

Em alguns casos, a escola tem uma referência geográfica, como a escola flamenga de pintores, notadamente baseada em Flandres, região distribuída entre as atuais fronteiras de Bélgica, França e Holanda. Já a escola do movimento Art Noveau, teve suas origens na França, com observação de ideias e propostas de apreciação da natureza já expressa por artistas franceses e ingleses em períodos que antecederam a maturidade de seu desenvolvimento. Mais recentemente, a grande produção dos artistas que procuraram o ambiente liberal e receptivo de Nova Iorque e outros pontos dos Estados Unidos, interagindo e possibilitando o desenvolvimento da arte contemporânea, com especial destaque a pintores, músicos, coreógrafos e escultores.

Uma referência de local que sempre destaco é a da estimada Bauhaus que, por ser “tanto um local / locus”, resistiu mesmo o quanto foi possível às pressões ideológicas, políticas e militarescas do momento na Alemanha, migrando como um todo, mas mantendo seus princípios e depois irradiando a filosofia inquieta, multidisciplinar, funcional e diversificada da arte.

Há outras origens, como o desenvolvimento de técnicas, como os pintores cubistas – que sempre evocamos – alcançando a expressiva produção brasileira. Também as referências à natureza, como as influências multi e interdisciplinares presentes em trabalhos de artistas como Wassily Kandinsky. E, por fim, num comentário inicial, os movimentos ideológicos, como as evocações nacionalistas, que aparecem em composições musicais como as de Tchaikovsky, Sibelius, Shostakovich e Bartók, entre vários outros.

Motivações que abrangem o local de nascença, fatores políticos, uma técnica disruptiva de ver o mundo, alterar a forma da arte ou mesmo sua finalidade, expressar outro mindset artístico… proposições, convites, impulsões que mudaram a arte.

Estas escolas, muito poucas fisicamente existentes, mas coesas na forma de pensar, nos ilustram bem o poder da comunicação, da colaboração, contribuição, cocriação e das discussões em torno de ideias, propostas e resultados. Nos contatos com o público (vários casos de compositores que foram tratados friamente e até mesmo vaiados em estreias de peças), na exposição de ideias e ideais, na prática e ensaios, na prototipação expressiva com colegas e comunidade, concepções são desenvolvidas desde os fundamentos e técnicas básicas, até mesmo com a definição de mensagens complexas a alcançar o público e permanecer como a expressão artística.

Interessante refletir a respeito. Num momento que simples programas e plataformas de “mensageria” nos permitem intempestivas comunicações próximas ou distantes fisicamente, passíveis de serem usadas em smartphones baratos, por que não pensar em escolas de pensamento? Por que não debater, desenvolver, trocar ideias e realizar experimentos conjuntos, em aplicação dos princípios de inovação aberta?

Temos ao dispor repositórios de códigos e projetos, espaços de agilização de crowdfunding, plataformas de expressão e trocas de experiências online, síncronas ou remotas, escolas sem sede, entre tantas outras alternativas. A formação da escola se faria com o apoio da parafernália virtual da qual não nos separamos, com métodos que tornassem adequados a expressão e troca de conhecimentos, a admissibilidade de ideias, a possiblidade de composição de propostas e projetos, indo desde a questão objetiva de formação de um problema até ideias para sua solução, com um andamento, objetivos e, principalmente, percepção de benefícios aos participantes, envolvidos e implicados, como stakeholders a receberem a repercussão de nossas ideias.

Um bom problema, digamos, “É possível mensurar o grau de satisfação de um cliente para a mudança de nossa mensagem visual?” pode dar origem a um pensamento “escolar” em torno de mensagens em vários idiomas, expressão linguística, tecnologia de base associada, programação e planejamento de interfaces, exposição e apresentação, entre outros temas associados. Especialistas, interessados, reguladores, investidores e outros agentes, devidamente envolvidos e engajados, participando em ações destinadas a, abertamente, discutir a questão e formar soluções.

Claro, é possível que nosso leitor já sinta que se envolveu em uma dinâmica deste tipo, algum tempo atrás ou recentemente. Ofereço, na perspectiva de simpatia pelo conceito de escola de pensamento, o que percebemos pelas ocorrências da arte: Há impactos perceptíveis na resposta alcançada? A forma de discussão se manteve depois do aparente alcance de uma solução ou visão comum satisfatória? O engajamento se manteve entre os que colaboraram para a solução? Esta “escola” lhe deixou, bem como aos demais, o interesse e os métodos para iniciar e integrar outras “escolas”?

Um bom exemplo para finalizar esta nossa reflexão sobre arte e gestão em torno das escolas, vem do movimento De Stijl, de origem holandesa, com início ainda na segunda década do século XX. Propondo, com base nas ideias do cubismo e das artes baseadas na natureza, formas simples de expressar e base em princípios bastante acessíveis – uso de formas, cores, padrões e expressões – os fundadores, que eram arquitetos, designers, artistas plásticos, na realidade iniciaram um movimento intelectual que dominou uma parte da cena filosófica do momento, mas também proporcionou aos sucessores, não se restringindo a seus membros, mas de correntes subsequentes, formas de pensar os fundamentos, conceitos, seus relacionamentos e sua comunicação.

Uma boa “escola”, em nossa mente, sempre é aquela que promove o constante debate e, ao longo de um grande período de tempo, produzirá conceitos que podem defini-la por todo o sempre ou mesmo modificar integralmente suas propostas, irá ainda abrir caminhos e portas para diálogo com outras escolas e, finalmente, proporcionar um contexto para constante evolução e desenvolvimento.

Ficam aqui nossas provocações, advindas das experiências das artes: suas concepções vitoriosas, suas soluções obtidas para problemas reais, irão permitir uma comunicação constante e evolutiva? Ao ter “fundado uma escola”, você percebe que ganha muito mais que “apenas” resolvendo um bom problema? Esta escola pode se expandir além dos limites geográficos, ideológicos, contextuais para abordar novos problemas, linguagens e comunicações?

Fica a recomendação: Pense… você pode fundar uma escola de pensamento!

Referências:

Recomendamos a busca dos seguintes termos, referente a temas discutidos neste artigo:

  • Escola grega, do cubismo, de arte contemporânea.
  • Destaque para a escola de Flandres e sua influência artística.
  • Destaque para a escola Art Noveau – recomendando buscar a experiência de arquitetos, designers e estilistas brasileiros.
  • Destaque para a escola de Arte contemporânea surgida nos EUA, principalmente em Nova York, no início do século XX, em revisão aos princípios europeus.
  • Termos de locais, referências e marcas: Bauhaus, De Stijl, Galeria Tate e MoMA New York.

Ao leitor:

Nossa proposta, nesta coluna, não é ensinar ou promover a crítica de Arte, em geral. É de provocar a reflexão sobre temas da gestão, como inovação, estratégia, marketing, transformação digital, entre outros, motivado por reflexões a partir da Arte.

Artigo escrito por George Leal Jamil. Ele é professor e consultor em temas de educação executiva. Engenheiro, MsC em Computação, Dr. em Ciência da Informação, pós-doutorados em Inteligência de Mercado e Empreendedorismo. Autor e editor de livros no Brasil e exterior. Colunista da plataforma Inovativos.

george leal jamil pb

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