No mundo de rápidas e profundas mudanças em que vivemos, inovações são vitais para garantir a competitividade das organizações no mercado. Essencial a elas, independentemente do porte, são adaptabilidade e energia para transformar. Lideranças que fomentam a inovação nas organizações, nas startups ou em estruturas mais robustas (que atuam há décadas ou atravessaram séculos no mercado) precisam encontrar adequação ao momento, cultura e recursos para promover estratégias claras como o azul radiante de uma manhã de verão em meio a um cenário de incertezas e muitas possibilidades.
Para falar de formas diferenciadas pelas quais empreendedores alavancam tecnologias que já existem ou criam mercados colaborativos e de produtos ou serviços inéditos, o painel Inovação em foco: Grandes Corporações e Nativas Digitais na busca pela disrupção e propósito transformacional, reuniu sob a mediação de Marcos Carvalho, Diretor Geral da ABO2O (Associação Brasileira Online to Offline), Andreas Blazoudakis, Fundador e CEO Netspaces; Carolina Falcoski, Open Innovation Manager Nestlé; Carlos Pappini Jr, Fundador e CEO Conecta Médico e Marcos Pedroso, Gerente de Parcerias e Plataformas Abertas TecBan.
Muitos caminhos para chegar à Inovação empresarial
Para situar a audiência sobre a jornada de transformação percorrida até este momento, Marcos Carvalho abriu o painel narrando uma linha do tempo com acontecimentos desde a criação da Internet (usada ainda no contexto bélico, de Guerra Fria, entre 68/69), até os dias que vivemos de Open Everything (conceito que trata a abertura de dados através de APIs padronizadas, permitindo que dados sejam reutilizados ou trocados entre diferentes serviços, além de combinados para compor novos negócios).
“O caminho de transição entre o pensamento linear e a exponencialidade gerada pela tecnologia permeia o debate. Este cenário traz uma série de questionamentos. Remete às mudanças culturais e processuais que os painelistas espelharão, cada um na sua ótica, mostrando como grandes empresas tradicionais (com décadas e até mais de um século de atuação) vêm se reinventando, bem como nativas digitais ressignificam segmentos tradicionais; de que forma estas estruturas podem atuar em conjunto buscando propósito e disrupção de forma autêntica no mercado”, disse o anfitrião antes de iniciar a rodada de apresentação convidando os participantes a falarem não só das empresas que representam, mas também sobre a bagagem profissional, já que alguns, assim como organizações, tiveram que se reinventar.
“Esta linha do tempo que montou na abertura estimula muito a gente; incrível, quanta coisa aconteceu, mas quanta coisa temos que fazer ainda”, comenta Pappini antes de contar sua trajetória de quase três décadas na área da saúde. “Fui executivo na área farmacêutica até 2010. Resolvi empreender, montei uma empresa voltada a programas de pacientes e a vendi em 2015 para o grupo Epharma onde voltei a ser executivo ao fazer todo o meu earn out (pagamento realizado em um processo de aquisição para os antigos acionistas como forma de compensá-los com os lucros futuros que a companhia poderá entregar). Em 2019, eu e três amigos montamos uma plataforma de telemedicina olhando a oportunidade da saúde cada vez mais conectada. Em 2020, quando veio a pandemia e com ela a regulação (ainda provisória), decidimos lançar a Conecta Médico no cenário de digitalização”, conta o empresário Pappini.
Carolina Falcoski, Gerente de Inovação Aberta da Nestlé, está à frente da plataforma que acelera e consolida ações de inovação aberta (que à época do lançamento, em (julho) 2021, já contava com 43 startups parceiras, em fase de testes pilotos e aceleração), declarou: “Na Panela Nestlê, conectamos players do ecossistema para construir a cadeia alimentar do futuro. Eu tenho um background diferente; nutricionista por formação, toda a minha carreira foi na indústria (não só de alimentos, mas também farmacêutica, de ingredientes e até de bens de consumo em geral). A inovação sempre fez parte do meu escopo em consultorias. De um tempo para cá me joguei nela. Me encontrei nesse enorme e colaborativo universo”.
O xará do anfitrião, Marcos Pedroso, com formação em Ciência da Computação, assina como Gerente de Parcerias e Plataformas Abertas TecBan e disse buscar aprendizado contínuo, conforme se movimenta e ingressa em novos ecossistemas: “Iniciei carreira no mercado financeiro. Atuei junto a um conglomerado do segmento na área de previdência privada. Fui para a área de tecnologia de um banco e retornei ao grupo segurador, com olhar voltado a um canal de internet. A partir disso, integrei a área de tecnologia da TecBan e me movi para a área de inovação. Passei pelas áreas de PMO, novos negócios e, atualmente, atuo na criação de novos produtos e no relacionamento com ambientes de inovação aberta (onde busco plataformas para suportar, além do core business, também a plataforma de novos negócios)”.
O empresário gaúcho Andreas Blazoudakis, Fundador e CEO Netspaces, declarou: “sou apaixonado pelo mundo tecnológico, especialmente por tecnologia celular. Estou envolvido há 20 anos nessa batalha de inovação. Já fundei 18 startups, não que eu quisesse chegar a este número, mas tive que criar 18 para chegar ao sucesso. Cinco delas seguem vivas e duas são unicórnios (uma é a Movile, que é investidora e controladora do iFood, outra unicórnio). As outras são Delivery Center (prestes a se tornar unicórnio), PlayKids (plataforma número 1 do mundo para crianças) e a Netspaces, empresa que há alguns dias criou a primeira propriedade digital por meio de uma NFT (non-fungible-token significa token não-fungível; um token criptografado, que não pode ser modificado e possibilita a comercialização de produtos digitalizados por meio de tecnologia baseada no blockchain, que chegou a mercados físicos, incluindo os mais regulados, como o imobiliário) imóvel e a vendeu para uma senhora de 82 anos; estou feliz por mostrar que o mundo disruptivo pode chegar à população, em geral”.
Inovação aberta: tempero de receitas co-criadas em caldeirão ganha-ganha
Retomando o ponto da abertura, com menção ao momento em que a mentalidade de guardar patentes nas gavetas foi substituída por dinâmicas colaborativas e oportunizando o aprofundamento do que foi trazido, o mediador convidou os representantes da Nestlé (centenária) e da TecBan (com quase quatro décadas de existência), a contar sobre como grandes corporações atravessam décadas incorporando mudanças para não ficarem obsoletas.
Falcoski explicou: “sim, como comentou, somos uma empresa centenária, celebramos 100 anos no Brasil, País em que estamos em 99% dos lares; quase todas as casas brasileiras têm algum produto Nestlé. Nossa jornada foca no consumidor.”
“Ao falarmos de inovação, não restringimos a produtos, tratamos desde o modo como a gente faz as coisas, de acordo com o que enxerga esse consumidor e como ele se comporta na jornada para acompanharmos; adaptando processos e integrando tecnologia e parceiros. É aqui que entra a inovação aberta. Este ecossistema é o que vai permitir a gente seguir relevante e entregando nosso propósito que é levar nutrição e melhorar a qualidade de vida das pessoas”.
Especificamente para TecBan, o mediador perguntou: “no mercado financeiro, até 2015, não vimos inovação; o cartão de crédito da forma como conhecemos existe há mais de 50 anos. De lá para cá, o Banco Central brasileiro vem atuando de forma revolucionária, sendo referência global, implementando Pix e Open Banking em menos de um ano e meio, como avalia dentro do caixa físico, que você está revolucionando junto com seu time, avanços no setor financeiro, nas áreas jurídica, processual e de governança?”.
Pedroso respondeu: “nossos negócios giram em torno do Banco24Horas, num primeiro momento para ganharmos espaço, fizemos produtos que agregassem valor dentro dele, como o saque digital, sem utilizar cartão ou biometria (pensado em ingressar fintechs, onde o cliente pode programar o valor no seu celular, escanear um QR code gerado no ATM, que dispensa a quantia programada).”
“Também há a modalidade de saque via token. Antecipamos esta tendência em 2018 e, agora, na pandemia, vimos a utilização deste modelo para pagamento do Auxílio Emergencial. As pessoas transferem os valores do aplicativo do Caixa Tem para fazer a antecipação desse valor e sacam no Banco24Horas. Com o volume de pagamento decorrente do Vale-Gás vemos que contribuímos muito com a população e atingimos o objetivo de atender não-bancarizados”.
Sobre como viabilizam as inovações, Pedroso complementou: “criamos o processo que é do hub digital com o intuito de acelerar o ingresso de fintechs, além de produtos que orbitam Open Banking, que desenvolvemos com uma startup do Reino Unido e, agora, com uma plataforma mais robusta, miramos o Open Finance. Dentro do próprio Banco24Horas, áreas criam produtos, como as mídias 24Horas (telas sobre os caixas do Banco24Horas, que, são MOOH (Midia Out Of Home, publicidade visual que atinge as pessoas fora de suas casas). Internamente, temos uma sinergia grande entre áreas para compartilhamento. Algumas ações são verticais, mas temos o cross apoiando estas iniciativas”.
Com a palavra, os que são hoje nativos digitais, mas têm legado de setores tradicionais, Pappini, à frente da healthtech, que reúne hoje mais de 6000 médicos, além de grupos de profissionais da saúde e participa do processo via ABO2O para fomentar a regulação definitiva da Telemedicina no Brasil, contou: “a primeira empresa que criei, em 2010, tinha um pouco de tecnologia facilitando a jornada, mas nada se compara ao surgimento de várias startups com soluções tão inteligentes quanto as atuais.”
“Eu brinco que na saúde, agora falamos de jornada, mas antes a gente tinha itinerários. Era pouco fluida, muito protocolar (ainda é, pois lida com vidas), mas agora começamos a acelerar rumo à saúde conectada. Estamos no início da jornada. A saúde sempre focou na inovação em produtos, mas pouco em serviços. A telemedicina traz a possibilidade de inovar no assistencial com impacto social, redução de custos, de forma sustentável”.
Para encerrar, chamado pelo mediador como “mestre do O2O”, por ter sido precursor da desconstrução dos limites entre mundo online e offline no Brasil, Blazoudakis, compartilhou: “Eu comecei como estagiário no setor de tecnologia e passei a sócio da empresa; nunca fui funcionário. Esta empresa se transformou várias vezes. No que diz respeito à inovação, eu trabalhava com a Inovação Evolutiva, que é tudo o que as pessoas acreditam que a inovação é. Somente há 10 anos comecei a trabalhar com a Evolução Disruptiva, que é totalmente diferente. Sobre como diferenciar um modelo do outro, ao analisar quanto uma inovação fará uma empresa crescer: se a resposta for 10%, 20% ou algo como 30%, estamos diante de uma Inovação Evolutiva.”
“Uma Inovação Disruptiva não pode fazer uma empresa crescer menos de 10 vezes, 1000%, porque ela quebra paradigmas. E isso tem a ver com a cultura, a gente tem que começar a falar da transformação pela questão da cultura, que é o motor desta revolução”.
Hoje, a Internet 2.0 pertence a cerca de cinco empresas. Será que a gente quer isso como sociedade? Começa a haver uma tendência à descentralização. A Netspaces vem ajudar as empresas a entrarem no mundo Blockchain. Vai mostrar que NFT não serve só para comprar uma arte ou um jogo. Serve ao mundo real mesmo”. Alcançar a perspectiva ideal é o desafio de quem precisa apontar o rumo para a inovação empresarial acontecer de forma facilitada, sustentável e que faça sentido para os objetivos dos negócios. Para estar em nível de competição com a nova onda de inovação, emparelhada com empresas adeptas da teoria da inovação disruptiva (influente nos círculos de negócios e boa em prever sucesso) é bom ter no radar que o impacto produzido por elas leva a uma mudança no comportamento de consumo; a solução anterior se torna obsoleta e pode até desaparecer. Ela não exclui grandes corporações, mas estas devem simplificar e baratear a maneira de segmentar consumidores.
Assista ao painel na íntegra abaixo ou escute o podcast completo aqui.