Locaweb, Neogrid, Méliuz. A lista de startups que estrearam na bolsa recentemente e deram início a uma onda de novas empresas de tecnologia que optaram pela abertura de capital na bolsa de valores é extensa. Não é à toa que 2020 foi considerado um ano memorável deste mercado e, ao que tudo indica, 2021 tende a ser melhor ainda para IPOs. Em fevereiro, a estreia em alta da Mosaico, detentora das marcas Buscapé, Bondfaro e Zoom, confirmou o apetite dos investidores por IPOs de empresas do setor tecnológico. Até o início de março, já eram 15 realizados. Mas qual a razão de tanto sucesso, mesmo em um cenário tão desafiador?
Segundo Rafaela Vesterman Araujo, Gerente de Relacionamento com Empresas da B3, duas características principais marcaram os IPOs de 2020: a diversificação de setores, como cashback, varejo para pets, brechó online, dentre outros, e empresas que já nasceram com um forte DNA das questões ESG.
Outra característica foi o valor médio das ofertas. Em muitos casos, a captação ficou abaixo de R$ 1 bilhão, bem menor que os valores de IPOs de anos anteriores, incluindo ofertas com captações de cerca de R$ 200 milhões.
“Na outra ponta, falando sobre o crescimento da base de investidores, encerramos 2020 com mais de 3,2 milhões de contas de pessoas físicas na depositária de renda variável. Em dezembro de 2019, eram cerca de 1,6 milhão de contas”, explica Rafaela.
O crescimento da base de investidores de pessoas físicas no Brasil, ultrapassando a marca dos 3 milhões de brasileiros, de fato, chama atenção, ainda mais se falarmos que isso aconteceu nos últimos dois anos. “Observamos também um protagonismo maior dos investidores locais nas ofertas de ações em 2020, quando comparamos com outros anos”.
Oferta e Demanda
O ritmo de crescimento nessas duas pontas, tanto na oferta (IPOs e follow ons) quanto na demanda (investidores), mostra que o momento é inédito no mercado de capitais brasileiro.
A mudança significativa na taxa de juros reais e essa busca pela diversificação por parte dos investidores têm impulsionado a agenda de ofertas públicas no Brasil. Rafaela explica que a entrada de novas empresas inaugurando novos setores na B3 estimula ainda mais que companhias com teses similares realizem esse mesmo movimento, além de comprovar que os investidores estão mais abertos para conhecer novos setores e novas histórias de empresas.
“Do lado da demanda, há uma busca por novos ativos, tanto para investidores institucionais quanto para investidores individuais, que estão cada vez mais assumindo a gestão ativa de suas poupanças e diversificando ativos para compor seus portfólios. Do lado da oferta, com a valorização do preço das ações puxada pela demanda, o mercado de capital se tornou uma opção atrativa para que empresas optem pela abertura de capital, influenciadas pela nova referência de valor de ativos”.
Diante de todos esses fatores, a B3 captou um volume total de aproximadamente R$ 120 bilhões, em 2020, sendo que cerca de R$ 43,7 bilhões foram em IPOs e R$ 74 bilhões em ofertas subsequentes (follow ons). Foi o maior valor conhecido desde 2010. Se considerar apenas os IPOs, foi o maior montante desde 2007, totalizando 28.
Otimismo em 2021
O ano de 2020 vai entrar para a história como um dos períodos mais desafiadores com a disseminação da Covid-19 causando impactos profundos na economia e na sociedade. “Ainda há muitas incertezas sobre quando e como a pandemia será totalmente superada, porém, os avanços na distribuição de vacinas no Brasil e no mundo trouxeram relativo otimismo para a retomada da economia, o que foi refletido em nossos negócios”.
Rafaela afirma que, mesmo sem descartar os desafios trazidos pela pandemia, “continuamos em um ambiente estrutural atrativo para o desenvolvimento do mercado de capitais”, com a inflação sob controle e a taxa de juros básica em nível ainda muito baixo.
Atualmente mais de 40 empresas estão protocoladas na Comissão de Valores Imobiliários (CVM) para abertura de capital. Rafaela afirma que há potencial para repetir ou superar o volume de ofertas de 2020, se for mantido esse cenário, com a continuidade dos juros baixos e o desenvolvimento econômico bastante atrelado à agenda econômica e de reformas do governo.