As discussões sobre o open banking representam hoje a uma das pautas mais quentes do mercado financeiro. A abertura de dados dos clientes para uso de todo o ecossistema gera dúvidas, desconfiança e, por outro lado, otimismo. Fred Amaral, Diretor Geral da Dock falou sobre o tema durante a O2Oix.
O que muda com o open banking?
Com a regulamentação da prática, que está em pauta no Banco Central, os bancos, principalmente os cinco maiores do País, não poderão guardar para si dados como comportamento de consumo, inadimplência e perfil de comportamento financeiro familiar.
O open banking prevê, por meio de regulamentação, que os bancos abram esse tipo de informação para a operação de outras instituições. Isto deve ocorrer via APIs.
O princípio básico da discussão é que o detentor da informação é quem a gera, e não os bancos. Se os dados são dos clientes, eles deveriam ter liberdade para entrega-los a quem quiserem.
“O livre acesso a dados já está promovendo na Europa e vai promover no Brasil maior competição. Existe muita competição no mercado bancário, mas entre os cinco maiores bancos. A outra centena de instituições financeiras competem por 20% de market share”, analisa Amaral.
O CEO da Dock diz que “o open banking vai trazer inovação, porque mil cabeças pensam melhor que cinco” (em referência aos cinco maiores bancos do Brasil).
Banco tradicionais estão ameaçados?
Na Europa, os bancos já são obrigados a oferecer interfaces para que terceiros tenham acesso às contas correntes dos clientes, desde que haja consentimento. Por aqui, o discurso de que esta regulamentação pode matar os grandes bancos ainda é forte.
Fred Amaral, porém, discorda. “Acredito que esta visão é míope. Parte do pressuposto que o valor do banco está nos dados que tem. Na minha opinião, essa visão tem o seu mérito, mas com certeza o valor de um banco não está em seus dados”.
Mudanças de comportamento
Hoje, o consumidor é quem dita as regas. Setores como a indústria mostram a transformação: se antes, era quem ditava o que seria consumido, hoje precisa estar próximo ao consumidor para produzir o que o público quer.
Amaral citou, durante a O2Oix cinco mudanças de comportamento que mostram por que o open banking faz sentido:
1. O intangível tem mais valor
Se antes os patrimônios físicos tinham mais valor para as empresas, atualmente o mercado e os consumidores dão valor aos dados
2. Poder de escolha
Fintechs como Nubank e AgiBank mostram aos consumidores que há opção de escolha para além dos bancos tradicionais, que não tinham uma relação bilateral com os clientes.
3. Mundo diverso
Em um mercado onde os cinco maiores bancos dominam 80%, não é possível que entreguem experiências personalizadas para os clientes.
4. Parceria = valor
Comprar ou criar soluções dentro de casa são caminhos mais difíceis que realizar parcerias, que geram resultados imediatos, algo extremamente valorizado pelos acionistas
5. Experiência acima de tudo
Hoje o consumidor pode escolher a empresa onde quer comprar determinado produto, são várias opções. Mas é a experiência que influencia a escolha por uma empresa ou outra
4 Vantagens do open banking
Por isso, Amaral enxerga no open banking oportunidades para fintechs, empresas de crédito e grandes bancos. Ele lista algumas vantagens:
1. Eficiência para os grandes bancos
A receita certamente diminuirá, mas a redução de custos deve compensar ou até gerar lucro para as empresas tradicionais
2. Regulador agradece
O Banco Central não precisaria controlar mais de mil instituições financeiras e sim as controlar através das empresas que já estão sob sua custódia hoje
3. Compliance facilitado
O compliance se aprende em décadas, não em anos. As instituições mais novas poderiam se beneficiar de parcerias com empresas tradicionais e aproveitar sua estrutura para operar
4. Blindagem antifraude
Os novos entrantes poderiam contribuir ainda mais para o mercado com a facilidade de operação e ajudar no combate a fraudes, o que seria benéfico para empresas e consumidores