Estudo realizado pelo Sebrae, divulgado em abril de 2020, revelou que ao menos 600 mil pequenas empresas fecharam as portas em consequência dos efeitos econômicos da pandemia. Cerca de nove milhões de pessoas foram demitidas, segundo estimativas do mesmo levantamento. Os números mostram o efeito devastador na economia em razão do novo coronavírus e a importância dos negócios se adaptarem ao atual cenário com mais agilidade, caso contrário, serão parte da mesma estatística. Foi para debater o tema que o Instituto Startups, em parceria com a Omie e apoio da ABO2O, reuniu um time qualificado de especialistas para discutir o que as empresas podem fazer diante dessa nova realidade imposta a todos os empresários do País. O encontro foi mediado por Adriana Dupita, economista da Bloomberg LP para Brasil e Argentina e professora da FGV.
Impacto Geral
“Existem dois tipos de empresas: as que já foram atingidas pela crise e as que ainda serão”, reflete Marcelo Lombardo, CEO e fundador da Omie. O executivo destacou que a pandemia gerou um efeito dominó e, se ainda não impactou o seu negócio, é uma questão de tempo. Por isso, sua primeira recomendação é cuidar do caixa. “Tem que cortar custos, emagrecer a empresa e se realinhar para esse novo momento”. No entanto, ele disse que o propósito dessa medida não é segurar as contas para retomar as atividades normalmente lá na frente, porque o mundo será outro. “Tem que aproveitar esse tempo para criar as mudanças no business e estar apto para atuar nesse novo mundo, ser mais digital. É preciso rever o modelo de negócio”.
“Existem dois tipos de empresas: as que já foram atingidas pela crise e as que ainda serão”
Segundo os especialistas, o mundo não será mais o mesmo depois dessa pandemia. As mudanças, no entanto, envolvem muitos aspectos positivos. “Essa situação promove transformações que favorecem a evolução da tecnologia”, disse Edson Rigonatti, fundador e sócio da Astella Investimentos. Os shoppings centers, as escolas, os cinemas. Tudo pode ganhar um novo formato ou propósito. Por essa razão, as estratégias corporativas devem ser tomadas em direção a como o mundo vai se encontrar passada a crise.
“Essa situação promove transformações que favorecem a evolução da tecnologia”
Vitor Magnani, especialista em Inovação, fundador do Instituto Startups, presidente da ABO2O e Head de Public Affairs da Loggi, destacou que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, mas que a crise incentivará o processo de digitalização no País. “Enquanto a penetração do comércio eletrônico brasileiro é em torno de 6%, de maneira geral, na China é 40%”, disse. Na opinião dele, será possível visualizar muitas empresas intensificando seus processos digitais para o pós-crise.
Recalculando rota
Mudar é preciso, mas nem sempre é confortável. Apesar dos desafios, ode ser um momento de crescimento. “Como readapto o negócio? Para quem meu produto/serviço pode ser vantajoso agora? Minha proposta de valor faz sentido para o cliente que estou indo atrás?”, questiona Marcelo. A partir dessas perguntas, o empresário explica que é possível traçar novas estratégias.
“Como readapto o negócio? Para quem meu produto/serviço pode ser vantajoso agora? Minha proposta de valor faz sentido para o cliente que estou indo atrás?”
No caso da Omie, por exemplo, eles mapearam os setores que mais teriam prejuízos com a crise, como as pequenas e médias empresas, e ofereceram condições especiais vislumbrando o futuro. A curto prazo, eles foram atrás das grandes corporações que não eram muito o foco anteriormente. “Os resultados estão dando certo. Estamos aproveitando a oportunidade para buscar novas demandas numa faixa de empresas que não estávamos conseguindo adereçar”.
Já Edson acredita que é essencial estimar o impacto da crise, como imaginar um cenário onde exista uma redução em 25%, 50% e 75% naquilo que você tinha projetado para o ano, e quais seriam os gatilhos para se readequar a essas realidades. “Assim você tem um mapa de risco e traça uma gestão de sobrevivência. O aconselhável é sempre ter mais de 12 meses de caixa. Se tiver, vá para o ataque. Tem que estar disposto, ter coragem e ser bruto na tomada de decisão”.
É possível perceber que muitas empresas estão se ajustando e se ajudando, em especial as que trabalham em rede. As organizações estão mais dispostas a negociar taxas e prazo de repasse nas operações de crédito, por exemplo. Mas é importante frisar que se adaptar ao digital não é apenas fechar as portas e vender por um aplicativo de mensagens. “Existe uma preparação a ser considerada, desde o momento do pedido até o embalo dos produtos”, ressalta Vitor. É algo que exige uma cultura e um tempo de aprendizado, no entanto, o fato é que o WhatsApp se tornou o grande comércio eletrônico da atualidade, mesmo que “obrigatoriamente”. “Estima-se que 57 milhões de brasileiros utilizem alguma plataforma para obter renda. A tendência é que isso deve se intensificar durante e pós-crise”.
“Estima-se que 57 milhões de brasileiros utilizem alguma plataforma para obter renda. A tendência é que isso se intensifique durante e pós-crise”
Hora de agir
A pandemia tende a gerar um novo momento de convergência tecnológica. Isso não significa que todo negócio terá algo tecnológico, nem que todo empreendedor deva entender sobre tecnologia. “Mas o conceito, as habilidades que isso irá impor são necessárias de ser compreendidas”, explica Vitor. Na opinião dele, toda indústria passará por um processo de integração, também atuando em rede. Ou seja, vai se conectar diretamente com o consumidor, terá mais automatização por meio do 5G, conseguirá otimizar mais produtos e serviços diminuindo custos. “Esse novo ambiente requer novas habilidades e, quanto mais conseguirem se manter atualizados por meio do que está disponível hoje no universo digital para se instruir, melhor”.
“Momentos como esse são ímpares, de grandes oportunidades. Não é fácil, as os empreendedores têm que farejar, ir atrás delas, com ética e responsabilidade social. Esse é o momento de crescer como nunca se cresceu na vida”, motivou Edson. “Que história você quer que seja contada sobre você daqui um ano? O fato é que você está construindo esse futuro nesse segundo. Pode ser ruim, pode ser bom, mas tudo depende do que você irá fazer nesse minuto”, complementou Marcelo.
“É importante que as empresas aproveitem esse chacoalhão que o vírus trouxe para refletir sobre esses aprendizados, até mesmo para o Governo ser mais digital – é inadmissível que o dinheiro leve tanto tempo para chegar nas mãos das pessoas e das empresas. Tem que fazer mais integração, migrar para uma situação onde as fintechs também consigam ajudar nesses momentos, para que crises como essas gerem menos concentração de poder de mercado, o que acontece hoje. Enfim, fazer do limão uma limonada”, finalizou Adriana.