Se existe uma coisa que as empresas já entenderam com essa pandemia é que, se elas não se adaptarem, terão uma perda de receita significativa ou até fecharão suas portas. No mercado de softwares e APIs não é diferente. Algumas organizações tiveram de pivotar, se reinventar. Mas uma coisa é fato: a transformação gerada pela mudança nos hábitos das pessoas a nível global acelerou inúmeros projetos, ajudando muitas delas a criar produtos e, consequentemente, novas fontes de receita.
“Crise é uma mudança brusca ou alteração importante no desenvolvimento de qualquer evento ou acontecimento. Ou seja, a gente está acostumado a olhar a crise como algo negativo, mas na verdade é como o chacoalhar de uma árvore; alguns caem, outros mudam de galho, e uns ficam onde estavam”, reflete Luis Garbelini, sócio-diretor da Tablet Cloud. Segundo o executivo, a crise trouxe novas demandas e oportunidades para acelerar o processo de digitalização que já vinha acontecendo nos últimos anos.
O executivo debateu em um evento online, realizado pela ABO2O em parceria com a AFRAC, ao lado de outros especialistas do setor, as oportunidades que essa revolução na rotina trouxe para suas empresas. O painel foi apresentado por Lucia Correia, coordenadora do Departamento Jurídico da AFRAC, e Mariana Winter, gerente de Estratégias & Parcerias da ABO2O, que destacou a importância do processo de digitalização para viver melhor a realidade física (online to offline).
A importância das APIs
Como se sabe, boa parte do dinheiro já é eletrônico, vide o crescimento das operações financeiras através de plataformas digitais ano após ano. “Nesse tempo de crise, vemos como o sistema continua bem, sendo uma ferramenta que move muito bem o dinheiro”, destacou Rodrigo Miranda, CTO e fundador do Zoop. Na opinião do especialista, as APIs têm um papel fundamental nesse processo já que ela auxilia parceiros e clientes a moverem a moeda, que migrou para o universo digital. “Há oportunidades de mercado para quem faz API primeiro, porque você vai separando as camadas de negócios sem atingir as demais conectadas”.
“A gente sempre foi muito voltado para API por dois motivos básicos. O primeiro é interno devido à comunicação entre os times de diversos produtos, que só consegue ser feita de maneira competente e escalável graças a API. E o outro motivo é que o nosso mercado demanda integração via APIs, pois nossos clientes dependem delas para evoluírem os modelos de negócios deles, seja por meio de relatórios específicos, automação, etc.”, explica Renato Moreira, VP de Produto e Desenvolvimento da Hotmart.
As APIs, de acordo com Renato, facilitaram tanto as relações de trabalho com a migração dos colaboradores para o modelo de home office como promoveram a entrada de novos agentes no mercado digital. Um exemplo disso é a grande quantidade de eventos que foram transferidos para o universo online. “A API gera essa adaptação, uma vez que conseguimos pivotar o produto com mais rapidez e qualidade, respondendo às movimentações de mercado”.
No caso da Cabify, o novo momento também trouxe oportunidades. Com o core business voltado para o transporte de passageiros, a crise impactou radicalmente a empresa devido ao distanciamento social e as pessoas estimuladas a se manterem em casa. Então, como manter a receita da organização, o sustento do motorista e fazer com que o usuário não saia de casa sem que essa relação seja sempre segura? “O Cabify Entregas surgiu dessa necessidade e de um processo muito rápido. Em duas ou três semanas já tínhamos um plano pronto para o launching. Esse modelo de entrega depende muito de API para tornar a experiência do usuário ainda mais agradável”, disse Henrique Peterle, gerente de Growth & Product Marketing da empresa.
A componetização das APIs cria uma aceleração muito grande para fazer com que as coisas funcionem mais rapidamente. A Zoop, por exemplo, fez uma integração com uma plataforma de antifraude. “Temos muitos parceiros que já tinham desenvolvido seus mecanismos para garantir o mínimo de segurança para transação dos lojistas que estão usando”, disse Rodrigo. Segundo ele, foi uma mudança de paradigma ver tantos lojistas indo para o online e as maquininhas de pagamento também serem usadas para entrega, porque o pagamento é mais seguro.
Desenvolvimento In House ou parceria colaborativa?
No modelo da Hotmart, como ela tem que lidar com uma cadeia de produtos diversificados, desde streaming até a distribuição de conteúdo em curso, sistema de pagamento, afiliação, o ideal, segundo Renato, seria que os processos críticos fossem internalizados. “Mas buscamos parceiros para iniciativas novas a longo prazo a fim de colocar o produto no ar o mais rápido possível, claro, atendendo todos os critérios de escala, performance e escalabilidade”.
O objetivo, assim, é botar no ar e ver se faz sentido para a área de negócios entender se o produto tem aderência, retorno financeiro, para posteriormente fazer uma análise se vale a pena internalizar. “Um exemplo é o nosso próprio sistema de pagamento. De 2011 a 2015, a Hotmart não tinha um sistema de pagamento, usava uma ferramenta do Grupo Buscapé para fazer esse processamento. Até que fomos ganhando corpo e know-how para criar o produto próprio que atendesse as nossas necessidades”, exemplificou Renato.
O ideal é que as empresas avaliem se o parceiro tem aderência para o negócio, se pode atender a customização, porque, às vezes, é preciso pivotar e ele pode não conseguir atender sua demanda. Construir toda uma gama de produtos para depois lançar pode ser prejudicial, pois a organização perderá velocidade. Tem que entender o que é uma necessidade pontual e pós-quarentena, e se vai perpetuar.
Lições aprendidas
Assim como em toda crise, as empresas também aprendem muito com as transformações repentinas e as oportunidades que surgem com ela. No caso da Hotmart, Renato explica que essa nova rotina teve grande impacto nas operações, no volume de cargas. No entanto, ele disse que sempre é possível evoluir o produto, mas é preciso manter a atenção na escalabilidade, na operação e manutenção. “Isso vai desde a forma que os DEVs programam e testam as funcionalidades, fazem testes de estresse, de carga, de integração de APIs, e na parte de infraestrutura, de DEVOPs, que é uma profissão bem disputada no mercado”.
Já a Zoop está vendo um crescimento de empresas que querem processar transações, e viram que os negócios delas podem ter continuidade nessa mudança de hábito. “Quando acabar essa crise, a gente vai continuar tendo um movimento online muito maior que existia. Minha atenção é fazer mais transações online, não presenciais, proporcionar mobilidade máxima aos marketplaces que estão entrando no mercado e vão levar as maquininhas de pagamento powered by Zoop para os parceiros a fim de termos mais segurança em transações e continuar cooperando com esse novo paradigma que está sendo criado”.
Para Henrique, da Cabify, mais importante que olhar para sua plataforma e transformar ela é ver o que pode ser adaptado para você inovar sem fugir muito do que faz, porque isso acaba sendo mais rápido. “O lado positivo dessas mudanças é que sempre surgem oportunidades. Há muita oferta de produtos interessantes no mercado, de APIs para fazer integração. Quem tiver disposição, é a hora certa para inovar, se integrar ainda mais e tentar tirar o melhor possível da crise”, finalizou Rodrigo.
Assista ao painel na íntegra: