Inovação Digital e Tecnologia na Centralidade do Cliente

Bancos & Fintechs: um overview atualizado sobre o mercado financeiro brasileiro

Recentemente, foi realizada a Semana Mundial do Investidor, uma iniciativa global promovida pelo Comitê de Investidores de Varejo da IOSCO (Organização Internacional de Valores Mobiliários) e conduzida no Brasil por um grupo de trabalho liderado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). O objetivo era promover iniciativas online com foco na proteção e educação do investidor, bem como educação financeira, cursos presenciais e à distância, entre outras. Em um dos painéis de debates, moderado por Vanêssa Fialdini (sócia da Fialdini Advogados), os executivos José Alexandre Vasco (IOSCO), João Manoel Pinho de Mello (BACEN), Leandro Vilain (Febraban) e Luisa Soares (ABO2O), deram atualizações importantes sobre o mercado financeiro e de fintechs no país. “Estamos sempre acompanhando os números do mercado e é impressionante o quanto estamos evoluindo em termos de adesão financeira no Brasil”, comentou Vanêssa.

 

O papel do Bacen

 

“A educação financeira é um grande instrumento de produção e indução da eficiência. É nossa obrigação empurrar essa agenda, pois ela ajuda a mitigar e prevenir vários problemas”, frisou Pinho de Mello em seu discurso de abertura. Segundo o executivo, todas as formas de consumo de produtos financeiros têm passado por uma grande revolução tecnológica que muda a natureza, o escopo e o cenário competitivo. “Somos participantes de um movimento que muda a forma como produtos e serviços financeiros são demandados e consumidos”.

 

“A educação financeira é um grande instrumento de produção e indução da eficiência. É nossa obrigação empurrar essa agenda, pois ela ajuda a mitigar e prevenir vários problemas”

 

O vetor que impulsiona essa mudança, na opinião de Melo, é a união entre a telefonia celular, as mídias sociais e os mercados financeiros e de pagamentos, o que ele classificou de Economia Digital. “É como se tudo ocorresse em uma mesma jornada na qual os aplicativos para smartphones proporcionam um acesso super fácil aos mercados e a formação de consumidores e influenciadores”. Na visão do Bacen, a inovação gera bem-estar, mas como em toda coisa nova ela traz desafios adicionais e seu uso será tão melhor, com o custo tão menor, quanto maior for a educação do usuário no uso dos produtos.

 

Melo explica que é evidente que o uso dos meios digitais expõe as pessoas e os sistemas a novas formas de fraudes e golpes, “mas, nós, indústria, participantes, reguladores, trabalhando juntos, cumprindo o nosso papel de conscientizar a população, vamos mitigar ao máximo os efeitos negativos e potencializar os positivos”.

 

As transações realizadas por dispositivos móveis aumentaram 35% em 2020 em relação a 2019. Parte deste efeito é consequência do isolamento social da pandemia, que acelerou uma tendência que já vinha crescendo anteriormente. “O Banco Central não vai direcionar ou escolher as inovações que ocorrem. Nosso papel é de atuação para prover infraestruturas essenciais, corrigir falhas de mercado para que o benefício a longo prazo seja o maior possível, especialmente quando contribui para a inclusão financeira, aumento da concorrência e aumento da democratização das oportunidades de investimento”.

 

Melo frisou que a visão do Bacen é manter uma abordagem neutra e equilibrada que cria estímulos para a inovação de forma segura e acessível para todos os regulados e favorece a melhoria da prestação de serviços dos clientes do sistema financeiro nacional e dos participantes do mercado de capitais. O PIX é um exemplo de como o sistema foi aderido pela população, enquanto o resultado do Open Banking tende a ser percebido mais a longo prazo.

 

Brasil: referência internacional

 

O primeiro ponto destacado por Vilain é o quanto o sistema financeiro brasileiro desponta a nível mundial. “O mercado brasileiro é o que tem de mais moderno frente a outras jurisdições. É um ambiente extremamente estável, bem regulado e fiscalizado”, ressaltou. Uma prova disso – justificou o executivo – é que o Brasil atravessou diversas crises mundiais sem nunca ter enfrentado grandes problemas com o setor bancário. “Isso dá tranquilidade e eficiência para a sociedade à medida em que a gente não tem enfrentado problemas de nenhuma natureza nos últimos anos no sistema bancário nacional”.

 

Para Vilain, o setor bancário brasileiro é de vanguarda na área de tecnologia e inovação. Segundo ele, quem teve a oportunidade de viajar para fora do país e interagir com bancos internacionais sabe que no Brasil temos o que há de mais moderno em termos de tecnologia, não somente na parte da segurança das transações, como também em termos de funcionalidades dos clientes. “Os aplicativos mobile fazem dezenas de transações, nosso internet banking traz segurança para as movimentações e não é à toa que o sistema bancário investe cerca de R$ 20 bilhões em tecnologia por ano. Em 2020, foram cerca de R$ 25 bilhões, e acredito que esse patamar deve se manter mesmo no cenário pós-pandemia”.

 

Além destes, Vilain relembrou que em 2018 foi feito um investimento de R$ 800 milhões no desenvolvimento de uma nova plataforma dos boletos, especialmente em um momento em que foi notado um incremento no número de fraudes eletrônicas. “Hoje, transitam cerca de R$ 12 bilhões de pagamentos por ano nesse sistema, um volume bastante significativo”.

 

Quando se tem um alto investimento tecnológico, com muita conveniência para os clientes, é normal que os usuários migrem para o ambiente digital. Para se ter uma ideia, dos 102 bilhões de transações realizadas em 2020, 67% foram feitas pela internet ou mobile, tendo em mente que uma parcela da sociedade ainda não tem um smartphone, não está na cobertura de 4G ou possui acesso ao wi-fi.

 

Vilain destacou ainda que o brasileiro é um consumidor voraz de tecnologia, tanto que o PIX atinge mais de 900 milhões de transações por mês e isso traz mais eficiência para o setor, aumenta inclusão financeira e traz uma série de benefícios para a sociedade em geral. Já em relação ao Open Banking, o executivo acredita que “vamos conseguir fazer no Brasil em um ano e meio o que a Inglaterra fez em cinco anos”. “Isso vai colocar o Brasil, mais uma vez, no papel de liderança em inovação no setor bancário frente a outros países”.

 

“Vamos fazer no Brasil em um ano e meio o que a Inglaterra fez em cinco anos. Isso vai colocar o Brasil, mais uma vez, no papel de liderança em inovação no setor bancário frente a outros países”

 

Cenário de fintechs no Brasil

 

Luisa Soares, Head of Legal, Compliance, Security and Privacy at Hash, também participou do painel representando a Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), que existe para defender interesses coletivos da economia digital, falou sobre o cenário de fintechs no Brasil e como os meios de pagamentos estão evoluindo e gerando oportunidades no País. “De fato, não há momento tão propício para a entrada de novos players no mercado”, disse. Algumas pesquisas mencionadas por ela exemplificam o atual cenário de fintechs nacional.

 

“De fato, não há momento tão propício para a entrada de novos players no mercado”

 

Atualmente, 35% das fintechs têm foco no público desbancarizado, um mercado pouco explorado. Cerca de 25% focam em meios de pagamentos. As grandes razões para o elevado número de pessoas desbancarizadas é a falta de dinheiro e por achar os serviços financeiros caros. “Pesquisas mostram que, em 2019, a penetração da internet na América Latina estava em 74%, um índice maior que a média global de 59%”, explicou. Segundo ela, o número de desbancarizados praticamente caiu pela metade com a chegada das fintechs.

 

Luisa falou sobre a penetração do PIX, que atingiu rapidamente 30% do mercado, mostrando que o sistema de pagamentos instantâneo do Banco Central foi desenvolvido com maestria. A evolução do PIX prevista para até o final de 2022 vai trazer muitas novidades para o dia a dia das pessoas, entre elas o PIX Saque/Troco, que permitirá ao usuário fazer um PIX para uma farmácia, por exemplo, e o estabelecimento poderá dar um troco em dinheiro vivo, podendo ser remunerado por essa transação. “Isso é um grande exemplo de inclusão, porque o estabelecimento comercial, ao invés de pagar taxas e tarifas, poderá ser remunerado por isso”, disse.

 

A especialista também explicou que o PIX Offline/QR Code também tem um exemplo de utilização muito claro, como no uso em eventos, por exemplo. “Os usuários poderão ter um QR Code nas pulseirinhas que poderá ser usado de maneira offline, sem nenhum acesso a internet, para pagar qualquer produto consumido no evento”.

 

Segundo ela, até o final do ano que vem o PIX sofrerá um avanço enorme e que os ajustes que vão sendo feitos no decorrer da jornada tendem a minimizar o número de fraudes. “Toda nova tecnologia quando implementada precisa de ajuste e eles serão feitos. Essas justificativas de fraudes não são razoáveis para barrar o crescimento e a penetração do PIX no mercado”.

 

“O momento é muito propício para a entrada de novos players no mercado. O BC tem um papel determinante para que isso ocorra. A concorrência está acontecendo e ainda há muitas novidades por vir, como a regulação de câmbio por exemplo”, finalizou Luisa.

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