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Smart Cities & Cidades MIL: Como tornar espaços urbanos mais humanos, inteligentes e sustentáveis

Nos últimos anos, diversos conceitos mercadológicos foram revisitados e ganharam novos direcionamentos, um movimento natural à medida que o cenário o qual estamos inseridos muda, assim como suas necessidades. No que diz respeito aos espaços urbanos não é diferente. Mesmo o termo recente Smart Cities (cidades inteligentes) já ganhou novas projeções ao incorporar os pilares de ESG (Environment, Social and Governance) e ganhou uma nova roupagem: Cidades MIL, abreviação de Media and Information Literacy. Para se aprofundar nas diferenças entre os conceitos e em como as cidades podem se tornar espaços públicos mais humanos, inteligentes e sustentáveis, o Fórum Cidade & Mobilidade promoveu um talk show entre Felipe Chibás, especialista LATAM do Núcleo de Cidades Inteligentes da GAPMIL Unesco e professor livre-docente da USP, e Marcos Carvalho, diretor geral da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O).

 

Segundo Chibás, os conceitos de responsabilidade social, inovação verde, economia criativa, agenda 2030 e tantos outros ajudam a entender os processos pelos quais as cidades estão passando. São, na opinião do especialista, essas novas formas de enxergar os centros urbanos que se denominam Cidades MIL. “É um lugar onde não se pensa apenas nos seres humanos, mas no meio ambiente e em outros fatores por meio de uma gestão participativa e tecnológica no mesmo patamar”, disse.

 

Chibás cita a Tembici como um dos conceitos por trás das cidades MIL. “A Tembici oferece aluguel de bicicletas, uma coisa ‘antiga’, mas através de uma plataforma que contém um diagnóstico da cidade, incorporando soluções que não visam apenas alugar bicicleta, mas propor uma outra maneira de enxergar a mobilidade urbana, de trocar com as cidades, com as pessoas, com os negócios”. É esse novo olhar que define cidades MIL. “Utilizar a tecnologia como valorização do ser humano e respeito com os grupos mais vulneráveis”.

 

Marcos“Há que se lembrar ainda do papel da educação, conscientização e inclusão digital, considerando que ainda há muitas pessoas excluídas globalmente da conexão em rede, que permite às pessoas se desenvolverem em múltiplas frentes”, relembrou Marcos. Segundo ele, a tecnologia é um meio, não um fim, e pode ser usada para perpetuar processos, organizações sociais tradicionais como já vínhamos tendo há décadas apenas a se manter e aprimorar em certos aspectos e mesmo gerar uma transformação cultural envolvendo todos os agentes. “Ou seja, a tecnologia pode ser usada para o bem, para essa inclusão, conscientização”.

 

A jornada

 

Chibás destaca que todas as cidades podem entrar no processo de Cidades MIL. Elas precisam incorporar a rede mundial de cidades MIL, já existente, criada em 2020. Há cerca de 250 indicadores que permitem avaliar as cidades e traçar as jornadas para que elas atinjam os objetivos almejados. “Tem cidade na África querendo adotar o conceito e nós estamos providenciando os caminhos”. O especialista explica que essas jornadas são definidas de acordo com o nível de desenvolvimento e realidade de cada lugar, ou seja, uma cidade como São Paulo teria processos diferentes comparada à Nairobi.

 

Pegando São Paulo como exemplo, Felipe Chibás afirma que a cidade está em um bom estágio de desenvolvimento, com laboratórios de inovação espalhados em 12 pontos estratégicos disponibilizados pela prefeitura. “No entanto, quando conversamos com as pessoas desses espaços, que estão ali criando sites, plataformas, apps, você percebe mais o interesse individual, não a inovação social que queremos”. O executivo da UNESCO ressalta ainda um certo desnível nas lideranças das startups e nas demais empresas de base tecnológica no que diz respeito à predominância do gênero masculino. “As Cidades MIL são se preocupam apenas em implementar a tecnologia, mas que ela seja aplicada de maneira justa, adequada, valorizando todas as diversidades”.

 

“Também temos a tríplice dos stakeholders, dos agentes envolvidos para que isso se efetive, envolvendo o setor privado, entidades públicas/governamentais e o 3º setor, ONGS e universidades”, frisou Marcos Carvalho. O diretor da ABO2O quis saber a opinião do especialista se as ações conjuntas entre essas partes conseguem ser efetivadas na prática ou se ainda estamos distantes dessa realidade.

 

Felipe Chibas .jpgAlém da tríplice destacada por Marcos, Chibás adicionou ainda mais dois agentes importantes nesse processo de inovação: os artistas e os cidadãos comuns. “Como disse Einsten, a imaginação é mais importante que o conhecimento. Os artistas se permitem não pensar como empresários que, muitas vezes, consideram entradas e saídas financeiras, ou como os cientistas que, possuem metodologias que ocasionalmente possam virar um problema para ações mais práticas e rápidas, ou ainda como o governo, que por motivos políticos são privados de tomar atitudes de forma mais adequada” explicou.

 

Já o 5º elemento – os cidadãos comuns – porque é preciso pensar nas necessidades de quem não tem carro, por exemplo, e precisa pegar ônibus, metrô, bicicleta para chegar em um determinado destino. “Para isso, é preciso desenvolver uma infraestrutura, integrar os modais, e muitas vezes esquecemos as necessidades das pessoas mais simples. As tecnologias precisam permitir que elas tomem decisões e possam monitorá-las junto com o governo”.

 

A cidade de Helsinque, capital da Finlândia, é um exemplo de Cidade MIL que possui um grupo de inovação criativa dentro da prefeitura formado por todos os agentes mencionados e que dão palpites em todos os projetos, especialmente em um bairro piloto onde os prédios funcionam com energia própria, tem infraestrutura de acesso para diferentes modais, uma forma sustentável de processar o lixo e muito mais.

 

“A tecnologia, se bem aplicada, deve ser o principal fomentador para que as cidades se tornem inclusivas e tenham todos os impactos transformacionais”, ressaltou Marcos, e complementou que vivemos grandes desafios nos âmbitos econômico, social e político, mas com resignação e ressignificação, sem dúvida teremos um aprendizado grande em todas as esferas. “Então, é tirar o melhor de cada desafio e buscar evoluir colaborativamente, não apenas olhar para os nossos próprios interesses, mas dos próximos também”. “O principal é ter uma postura na formação de solidariedade e procurar fazer com que nossas cidades e espaços urbanos sejam cada vez melhores”, complementou Chibás.

 

Os interessados em saber mais sobre os projetos de Cidades MIL devem acessar o site oficial da UNESCO e buscar os materiais relacionados, que possuem toda a metodologia de como implementar esse framework.

 

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