O mercado financeiro vive um momento de profundas transformações. Depois da chegada das fintechs, os grandes bancos ainda devem sofrer outros impactos com assuntos como open banking, interoperabilidade, pagamentos instantâneos e entrada de big techs no mercado financeiro. A O2OiX reuniu especialistas de grandes empresas para falar sobre as tendências do setor e os desafios que se colocam diante de todos os players.
Bruno Diniz, cofundador da Spiralem e head do comitê de fintech da ABStartups mediou painel com representantes do GuiaBolso, Stone, CrediGO e SmartMei. Todos revelaram suas opiniões sobre as pautas mais quentes do mercado financeiro e falaram sobre os desafios a serem enfrentados.
Open banking: tecnologia não é barreira
O open banking parte do conceito de que aquele dado que banco tem é, na verdade, da pessoa que o gerou. Foi você quem pagou aquela conta, que fez aquela transação. A única coisa que não é sua é o limite de crédito.
Para que o compartilhamento de dados entre instituições financeiras seja realidade no Brasil, o entrave é regulatório e cultural, afirmam os especialistas.
“O menor problema é a tecnologia. Já existem APIs estruturadas. No GuiaBolso já fazemos isso há tempos. Quem deve ter o benefício do dado é o consumidor”, defende Julio Duram, diretor de Tecnologia do GuiaBolso.
A SmartMei, empresa que cuida de questões burocráticas, como relações bancárias e contábeis, para pequenas empresas, a tecnologia também já é uma realidade. “Na SmartMei, resolvemos burocracia para o usuário em sites que não têm integração alguma”, explica Marcello Picchi, cofundador SmartMei.
Bruno Chan, cofundador da CrediGO, afirma que ainda há uma barreira cultural para a popularização da tecnologia. “As pessoas têm receio sobre o uso de suas informações. A questão é fazer o público enxergar isso como algo benéfico, porque o movimento, em si, é inevitável. O Brasil está seguindo o caminho correto e vai acontecer”.
Há ainda a barreira social. A democratização da tecnologia precisa ser levada em consideração nas discussões, defende Anna Kanamaru, Senior Legal Counsel Latam de importante plataforma de meio de pagamento, uma das participantes do painel.
“Um dos maiores desafios é a comunicação. O Brasil não é só o eixo Rio-São Paulo. Precisamos atingir outros estados e a transparência dos grandes players vai ser essencial”, diz a advogada.
Entrada de big techs: movimento natural
O Facebook está não apenas de olho no mercado financeiro como já com os pés nele. Nesta semana, a empresa norte-americana lançou o Facebook Pay, seu aplicativo de pagamentos. Uber e Netflix são exemplos de bigtechs que também poderiam impactar o mercado financeiro.
Picchi, da SmartMei, vê o movimento com naturalidade: “as bigtechs já têm é o front end e o poder operado ali de dentro pode ser uma vantagem para o cliente. Todas têm dinheiro para entrar no mercado financeiro e open banking é uma ótima porta de entrada”, explica.
Para Bruno Chan, este é um movimento inevitável, mas as empresas, por maiores que sejam, terão limitações. “Não é um player que consegue fazer tudo. O que temos que fazer é diferenciar o produto o máximo possível para atender e fidelizar um nicho para depois crescer”.
“Tudo isso está sendo feito em benefício do cliente. Se as big techs vierem em benefício da competição é bom para o mercado”, pondera Julio Duram.
Pagamentos instantâneos: tarifação é a grande vilã
Uma TED que é liquidada em poucos segundos e tem taxa menor que as modalidades de transferência oferecidas pelos grandes bancos. Este é o sonho de muitas empresas do mercado financeiro e, claro, dos consumidores. Mas, o que parece ser bom pode não se tornar tão vantajoso assim.
Breno Maximiano, diretor da Unidade de Banking da Stone e Sócio da empresa lembra que a TED é extremamente barata e rápida, mas “os bancos conseguiram deturpá-la”.
Ele alerta para os riscos de deixar que aconteça o mesmo com os pagamentos instantâneos e convoca as pequenas empresas a participarem do debate sobre a regulação. “A nossa esperança é que seja mais barato. Precisamos ganhar a discussão para que seja mais barato”.
Duram, do GuiaBolso, avalia que a tarifação é “muito mais grave e perigosa do que qualquer entrave tecnológico”.
Resta às empresas ficarem vigilantes e atuarem em favor de um ecossistema saudável e benéfico para o consumidor.