Com consumo médio de 69,3 litros por habitante ao ano, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de países que mais consomem cerveja, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. A bebida, presente em churrascos, encontros e celebrações por todo o país, tem na cevada um de seus ingredientes essenciais — e, cada vez mais, o cultivo dessa matéria-prima tem mobilizado esforços conjuntos entre produtores, cooperativas e pesquisadores.
Nos Campos Gerais, no Paraná, um dos principais polos produtores de cevada do Brasil, cooperativas locais se uniram para criar uma das maiores maltarias da América Latina. A iniciativa ampliou a demanda regional pela cevada, mas também evidenciou os obstáculos enfrentados pela cultura no país: variabilidade climática, dificuldade de adaptação de variedades europeias e necessidade de grãos com padrão rigoroso de qualidade.
Para superar esses entraves, o setor vem apostando em soluções tecnológicas. Uma das novidades no campo é o uso de modelagem computacional aplicada ao desenvolvimento agrícola. A agtech Calice, que atua na Argentina e nos Estados Unidos, começa agora a operar no Brasil com uma plataforma baseada em inteligência artificial para prever o desempenho de diferentes variedades de cevada em cenários diversos.
Segundo Mauricio Varela, responsável pelo desenvolvimento de negócios da empresa, a ferramenta NODES cruza dados biológicos, agronômicos e ambientais para apontar quais linhagens têm maior chance de se adaptar ao solo e ao clima de regiões específicas. A proposta é otimizar a produção desde o plantio, com foco em características importantes para a malteação, como teor de proteína e capacidade de germinação.
A tecnologia tem sido testada em regiões como Campos Gerais, onde mais de 25 linhagens de cevada são avaliadas por ano por centros como a Fundação ABC e a Fapa (Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária). Os estudos têm contribuído para o aumento da produtividade e para a elevação da qualidade dos grãos destinados à produção de malte.
Com a cevada respondendo por até 100% do malte usado nas cervejas nacionais — como prevê a legislação brasileira —, a melhora na cadeia produtiva tem impacto direto no sabor, na estabilidade e na espuma da bebida. Além disso, o avanço tecnológico no campo fortalece o elo entre inovação e agricultura, num setor que, além de estratégico, está intimamente ligado ao cotidiano dos brasileiros.