A 23andMe, uma das empresas pioneiras no segmento de testes genéticos domiciliares, entrou com pedido de proteção contra falência no último dia 23, após meses de incerteza sobre seu modelo de negócios e crescentes preocupações sobre a segurança dos inúmeros dados de clientes que ela detém.
Em uma declaração, a 23andMe disse que havia entrado com pedido de falência do Capítulo 11 para “facilitar um processo de venda para maximizar o valor de seus negócios” e fazer mais reduções de custos. Anne Wojcicki, presidente-executiva da 23andMe, anunciou que havia renunciado para fazer uma oferta pela empresa.
A 23andMe pretende continuar operando durante o processo de venda, sem alterações na maneira como armazena, gerencia ou protege os dados dos clientes, disse o comunicado.
Wojcicki, cofundadora da empresa, que detinha 49% das ações com direito a voto, disse que estava decepcionada com o fato de a empresa ter rejeitado sua oferta anterior de torná-la privada. Ela ainda declarou a sua saída da empresa.
Ascensão e queda
A decisão marca um momento crítico para a companhia, que há menos de quatro anos estava avaliada em mais de US$ 6 bilhões, mas hoje vê seu valor de mercado abaixo dos US$ 50 milhões. A falência levanta dúvidas sobre o futuro dos dados genéticos dos milhões de clientes que utilizaram os serviços da empresa, além de expor os desafios enfrentados pelo setor de biotecnologia focado no consumidor final.
O declínio da 23andMe não aconteceu de forma abrupta, mas sim ao longo dos últimos anos, com uma série de problemas operacionais, estratégicos e de credibilidade. Em 2023, a empresa foi alvo de um grave ataque cibernético que resultou no vazamento de dados genéticos de aproximadamente 7 milhões de clientes. O incidente gerou um enorme impacto na confiança do público e resultou em um acordo judicial de US$ 30 milhões. Além disso, as preocupações com a privacidade dos dados armazenados pela empresa cresceram, especialmente com a possibilidade de que, no processo de falência, esses dados possam ser vendidos como ativos para outras companhias.
Outro fator determinante para a crise foi a tentativa de Wojcicki de retomar o controle total da companhia, oferecendo US$ 0,40 por ação para tornar a empresa privada novamente. A proposta foi mal recebida pelo conselho de administração, que renunciou em massa, aumentando ainda mais a instabilidade interna. Sem um caminho claro de recuperação, investidores começaram a se afastar, e a empresa entrou em uma espiral de desvalorização.