O diretor de Regulação do Banco Central (BC), Otávio Damaso, afirmou que o Open finance – sistema de compartilhamento de dados entre bancos e instituições financeiras, não é uma “agenda fácil” de ser implantada, mas trará muitos benefícios aos clientes.
“O Open finance não é uma agenda fácil. O incumbente não quer compartilhar as informações”, disse Damaso durante painel no Innovation Xperience Conference, uma iniciativa do Grupo Innovation Xperience (Grupo iX). No Brasil, os incumbentes são considerados os grandes bancos de varejo como Bradesco, Itaú, Banco do Brasil e Santander.
No entanto, ele ressaltou que o “Open Finance é uma jornada que vai trazer muito benefícios”. Para Damaso, o compartilhamento de dados vai favorecer até o cliente que está negativado com o temido “nome sujo”.
“A performance do Open Finance está em evolução, mas tenho certeza que vai fazer muita diferença para o cliente, mesmo para quem está negativado, já que tem empresas que operam com o Prime e tem gente que opera no sub prime”, declarou.
Juarez Borges, diretor-geral do PayPal no Brasil, concorda que o Open Finance trará vantagens aos consumidores. “O Open Finance, sem dúvida, é um ambiente propício de inovação. Para as fintechs permite que você melhore as taxas dos consumidores e acaba sendo um ecossistema para a entrada de marketplaces”, disse.
Apesar do cenário otimista, Borges afirmou que é necessário que sejam feitas campanhas educativas para que as pessoas se sintam mais segura em aderir ao sistema. Ele também falou sobre a importância em ajudar as pessoas a limparem o nome e elogiou o programa Desenrola, do governo federal, para renegociação de dívidas e que ajuda na inclusão financeira.
A advogada Letícia Málaga, sócia do Peck Advogados, acha que o Open Finance vai demorar para se tornar popular. Ela também destacou a importância da legislação aliada à tecnologia.
“Falta ainda conscientização do mercado sobre como os dados vão ser utilizados. A gente percebe esse caminho de educação do mercado, do consumidor. O consumidor precisa ter mais segurança para compartilhar esse benefício. Com a área de negócios e tecnologia, o compliance e jurídico se unem.”
Durante painel mediado por Rodrigo Soeiro, CEO e cofundador da Monnos e líder do Comitê de Fintechs & Payments do Movimento Inovação Digital (MID), o convidado José Mario Ribeiro, CEO da Adiq, falou sobre o auxílio da tecnologia para a competitividade do mercado financeiro.
“A simples mudança do meio de pagamento de cheque para cartão criou um sistema fantástico em que surgiram vários players. O BC tem poder de definir os players, uma responsabilidade imensa.” O CEO da empresa de soluções de pagamento afirmou que a chegada do PIX afetou todos os players. “Novas tecnologias são assimiladas de formas diferentes e elas coexistem.”
De olho no futuro, ele disse ainda que a Adiq planeja inserir o Drex em suas maquininhas, e-commerce, marketplace e outros meios de pagamento.
Brigas do bem
Otávio Damaso disse que o Banco Central comprou “brigas do bem” com a regulação do sistema financeiro, já que as tecnologias enfrentaram resistências dos players do mercado.
“A gente identificou a inovação como uma forma de superar barreiras e isso aconteceu, mas não de graça. O BC comprou brigas do bem. A gente quebrou barreiras e o mercado cresceu”, concluiu o diretor de regulação do BC.