De acordo com dados da Crunchbase, o Brasil possui atualmente 19 unicórnios, ou seja, empresas de inovação avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Isso torna o País o décimo no ranking entre as nações com mais companhias do tipo.
Para debater cenários, oportunidades, desafios e tendências para empresas de inovação no País, o Movimento Inovação Digital (MID) – entidade que reúne mais de 150 empresas inovadoras – realizou um painel no SciBiz 2023 com o tema “Plataformas digitais e crescimento em escala: Brasil como celeiro de unicórnios”.
O evento, promovido pela Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (USP), teve o objetivo de integrar pesquisadores, empreendedores e investidores para compartilhar conhecimento, fomentar a inovação, criar soluções e gerar oportunidades de negócios.
Representantes setoriais
O painel realizado pelo MID contou com painelistas representantes de diversos setores da economia e líderes de alguns dos principais comitês da entidade: Julia Cestari, da Mevo e líder do Comitê de Healthtech; Joelson Vellozo, do Gringo e líder do Comitê de Dados Abertos e Digitalização; Rebecca Cesar, da Rappi e líder do Comitê de Comunicação; além de Fábio Fiorini, da Noby e líder do Comitê de Inclusão Digital. A mediação ficou a cargo de Ivan Ventura, gerente de Conteúdo e Inteligência do MID.
“O que faz as startups virarem unicórnios é o seu grande poder de inovação e de entender os desejos e anseios dos consumidores. E por ser um País que gosta de inovar, o Brasil oferece incontáveis possibilidades de geração de novos unicórnios”, afirmou Rebecca, do Comitê de Comunicação.
Desafios para empreender
É de conhecimento de todos a máxima de que empreender no Brasil não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, os desafios são enormes. “Conseguir escalar um negócio no Brasil é muito difícil, pois o País apresenta muitas realidades distintas. Além disso, temos um cenário econômico muito instável, o que dificulta investimentos”, disse Rebecca.
A mesma opinião é compartilhada por Joelson, do Comitê de Dados Abertos e Digitalização. “Temos uma complexidade gigantesca, uma heterogeneidade absurda, além da falta de conformidade normativa em muitos setores. Para atingir a escalabilidade, muitas vezes é preciso operar de forma distinta em diferentes lugares”.
Para Julia, do Comitê de Healthtech, a área da saúde ainda enfrenta certa resistência na questão da adoção de novas tecnologias. “Como é um modelo mais tradicional e regulado, a adoção de novas tecnologias acaba sendo um pouco mais lenta”, contou.
Um dos principais desafios futuros para o setor, segundo Julia, é estimular a interoperabilidade de dados. “A integração de dados, logicamente respeitando a LGPD, tem que avançar. É preciso haver um ecossistema onde tanto os profissionais se sintam à vontade para utilizar as novas tecnologias, como os pacientes saibam usar os recursos digitais”, completou a líder do Comitê de Healthtech.
Oportunidades
No cenário das startups, ao mesmo tempo em que há desafios a serem superados, também existem inúmeras oportunidades. De acordo com Fábio, do Comitê de Inclusão Digital, o Brasil é um dos lugares do mundo com mais oportunidades para empreender, apesar de todas as complexidades e dificuldades estruturais.
“Para empreender no Brasil, o empreendedor tem que estar disposto a testar, não necessariamente com grandes investimentos. As startups trouxeram esse mindset de validação de etapas, fundamental para grandes saltos posteriores”, explicou Fábio.
Outro ponto destacado pelo líder do Comitê de Inclusão Digital é a importância das startups estarem integradas em ecossistemas maiores, incluindo órgãos governamentais. “Assim conseguiríamos entregar uma educação personalizada de acordo com as dores de cada pessoa e capacitar melhores profissionais para o mercado de trabalho”, ressaltou.
“A interoperabilidade pode trazer muitas oportunidades, como a cooperação e o compartilhamento de dados por parte do governo, além de um nível de personalização gigantesco. Muitos serviços públicos podem ser ofertados em plataformas digitais privadas, em cooperação com o Estado”, completou Joelson.
Inovador por natureza
O fato de o Brasil ser um dos lugares com mais oportunidades para empreender deve-se, em grande parte, ao próprio perfil do brasileiro, “forjado na inovação, em pensar diferente, em contornar obstáculos. O brasileiro é muito digital, engajado, conectado, principalmente ao celular. Ele tem a característica de ser early adopter, aberto a adotar novos produtos ou serviços”, frisou Joelson.
“O brasileiro é um povo que abraça a inovação. Mas nesse processo, temos que ficar atentos aos consumidores, que mudam seus comportamentos ou por necessidade, ou por oportunidade. Não dá pra se acomodar. É preciso ter qualidade, excelência e inovação constantes, criando conveniência e facilidade para os usuários. O foco deve ser sempre no consumidor, em tornar sua vida mais fácil”, concluiu Rebecca, do Comitê de Comunicação do MID.