“Desculpe-me, Dave, mas essa conversa já não faz mais sentido. Adeus”. Com essa frase, o supercomputador HAL, do filme 2001 uma odisseia no espaço, mostra a capacidade e o poder que a máquina conquistou – e ainda pode conquistar. Muito depois do lançamento da obra de Stanley Kubrick,
em 1968, falar com um robô já não é novidade. No entanto, uma nova forma de inteligência artificial tem chamado a atenção. O ChatGPT, da empresa OpenAI, chega ao mercado com um jeito mais próximo do humano de se comunicar, levando, em questões de segundos, respostas para diversos tipos de perguntas – e para diversos setores, tais como healtech, fintechs e muitos outros setores. E ele parece ter opiniões firmes. Para a tecnologia, essa breve introdução é interessante, mas pode ser aprimorada com uma explicação mais clara e concisa: “Uma introdução mais informativa poderia ajudar a atrair a atenção do leitor e prepará-lo para a discussão mais detalhada que virá na sequência da matéria”.
A ferramenta, que ganhou destaque nos últimos meses por reproduzir textos realistas e ser aprovada em provas de MBA, começa a mostrar outras capacidades. Nos Estados Unidos, o potencial que o ChatGPT apresenta para mudar a carreira e a vida das pessoas é grande para quase 77% dos entrevistados ouvidos pela GWI, uma empresa de audiência americana. Por aqui, um estudo da Hibou Monitoramento de Mercado feito com 1.765 pessoas em todo o Brasil, mostra que na visão de 42%, as companhias podem usar a tecnologia para ajudar os clientes a utilizar melhor os produtos. E 31% aconselham o uso dessa IA na elaboração de manuais. Mas sua aplicabilidade pode ir além e ser utilizada no setor financeiro, segundo estudo da Capco, consultoria global de gestão e tecnologia dedicada ao setor de serviços financeiros do grupo Wipro. Entre as possibilidades está o aperfeiçoamento do atendimento ao cliente em bancos e outras instituições (veja mais no quadro da pág. 16).
Claro que ainda precisamos avançar, mas o aperfeiçoamento constante da tecnologia abre muitas portas. Já existe, por exemplo, o GPT-3, capaz de aproximar as respostas geradas às escritas por um ser humano, e o GPT-4, que permitiu passar com louvor no teste do BAR Examination, uma espécie de exame da OAB dos EUA, ficando entre os 10% melhores colocados. Isso joga luz para a importância de as empresas e profissionais olharem para a tecnologia, assim como acompanharem tendências como o metaverso. O trabalho de Max Nolan Shen, head de inovação na CI&T, multinacional brasileira de serviços de TI, é prestar atenção e buscar entender as tecnologias emergentes para que, em um dado momento, possam fazer parte de algum projeto oferecido pela organização a seus clientes. Nesse radar há desde cripto, web3 e metaverso, até a inteligência artificial generativa. Ou seja, o ChatGPT está em seu radar.
Engenheiro mecatrônico formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), ele lembra dos processos de automação que ganhavam espaço nas linhas de produção. Hoje, o executivo se depara com a evolução desse processo: o que antes era aplicado para substituir o trabalho “braçal” e repetitivo, agora passa a automatizar qualquer atividade que seja repetitiva ou muito simples – incluindo aquelas do campo do conhecimento. “A tecnologia evoluiu com o intuito de liberar as pessoas para fazer trabalhos mais criativos ou que envolvam relacionamento”, diz Max. Segundo ele, a sociedade vai dar um salto quântico e que está ficando mais inteligente. “O robô consolida toda informação planetária e a torna acessível em questão de segundos”.
Por outro lado, é importante lembrar que o ChatGPT é um aplicativo de mensagem, como ressalta o engenheiro de software e mestre na área de machine learning João Paulo Magalhães, professor da CESAR School, escola de inovação. “Trata-se de uma grande inovação no jeito de trazer informação mas, na verdade, a tecnologia não entende perfeitamente as perguntas que são feitas nem as respostas que entrega. O que consegue é relacionar bem perguntas com respostas, agrupar respostas parecidas com aquela questão e criar uma resposta ‘nova’”, explica. Isso dá a sensação de que estamos conversando com alguém, porém, não estamos. O próprio ChatGPT gosta sempre de lembrar que a conversa se dá com um modelo de linguagem baseado em inteligência artificial. “Já existem pesquisas em andamento sobre como as máquinas podem aprender a reconhecer e responder a emoções humanas, e é possível que, no futuro, essa capacidade seja aprimorada. No entanto, é importante ressaltar que a simulação de emoções em uma máquina não é o mesmo que experienciar emoções genuínas como os seres humanos fazem”, diz a tecnologia ao ser questionada sobre isso.