Nos últimos anos, o avanço da tecnologia possibilitou que empresas de diversos setores da economia, caso do varejo, começassem a implantar ofertas financeiras em seu catálogo de produtos e serviços, descentralizando a cadeia controlada pelos grandes bancos. Trata-se do modelo de Embedded Finance, ou finanças embutidas, na tradução livre.
Na prática, esse modelo proporcionou a criação de empresas e/ou a flexibilização de suas operações. Para discutir a inserção desses novos players no segmento de produtos e serviços financeiros, o Grupo Innovation Xperience (iX), com o apoio do Movimento Inovação Digital (MID) e da CSU, promoveu o painel ‘A experiência recorrente de compra como pilar para o Embedded Finance’.
“Tínhamos uma concentração bancária muito grande no Brasil. A partir de 2015, com a atuação do Banco Central, foi possível empoderar o consumidor e gerar competitividade na oferta de produtos e serviços financeiros por meio do surgimento de novos players”, afirmou Marcos Carvalho, diretor geral do Grupo iX e do MID, e mediador do painel. O MID é uma entidades com mais 150 empresas e promove uma agenda nacional de fomento da Inovação, Tecnologia, Digitalização e Competitividade.
Oportunidade de mercado
A tendência de embutir produtos e serviços financeiros – como a contratação de cartão de crédito – em plataformas não financeiras vem invadindo diversos setores, que buscam, além de ampliar o relacionamento e o engajamento com os clientes, criar novas linhas de receita.
No segmento de telefonia, a Claro, por meio do app Claro Pay, oferece serviços como depósitos, saques, pagamentos de boleto, recarga do celular, serviços de crédito, entre outros, principalmente para sua base de clientes no pré-pago. “Com o cenário regulatório favorável e o open banking, identificamos que havia uma oportunidade de entrarmos no segmento de fintech”, contou Maurício Santos, general manager and financial da Claro Pay.
O executivo explicou que o Claro Pay funciona como um hub. De um lado, a empresa possui os dados de mais de 80 milhões de clientes. De outro, parcerias com bancos e outras fintechs garantiram a oferta de diversos serviços digitais. “O objetivo é ter um app de relacionamento que ofereça as soluções dos nossos parceiros da forma e no momento em que o cliente precisar. Nosso propósito, além da inclusão digital, é a inclusão financeira de uma enorme parcela de desbancarizados”, apontou.
Jornada de Inovação
A ideia de criar uma fintech do grupo Energisa – uma das maiores distribuidoras de energia do País, com atuação em 11 estados e mais de 800 cidades – surgiu em 2018, como solução para resolver as dores dos clientes da centenária empresa de energia.
“Naquele momento, começamos um trabalho para entender a jornada de pagamento do nosso cliente e verificamos que dois terços deles pagavam suas contas em agências lotéricas e em dinheiro, o que representava um custo de arrecadação para o grupo e um impacto muito grande na vida dessas pessoas. Entendemos que precisávamos levar inovação para essa jornada”, destacou Daniel Orleans, founder e co-CEO da Voltz.
A inovação se deu com a criação da Voltz, uma fintech capitalizada pelo Grupo Energisa. Atualmente, a Voltz oferece a seus clientes, além das contas digitais, empréstimos, pagamentos de contas com Pix, assistências, entre outros produtos.
“Hoje o nosso cliente precisa de finanças omnichannel, de serviços financeiros dentro da sua jornada. Nosso objetivo é levar soluções e transformar essa jornada, de forma que ele possa ter mobilidade social. Finanças disponíveis de forma mais democrática também produzem mobilidade social”, ressaltou Orleans.
Recorrência
A Voltz e a Claro Pay são exemplos de fintechs que possuem serviços recorrentes, ou seja, as experiências de compra por parte dos usuários são contínuas. Dessa forma, elas conseguem ter uma vasta gama de informações e dados sobre o comportamento de seus clientes.
“Hoje o grande desafio de uma empresa é como manter o consumidor final dentro do seu ecossistema, fazendo com que isso gere uma recorrência. Nosso objetivo é justamente facilitar esse processo, disponibilizando ferramentas que eliminem fricções e garantam segurança nas jornadas dos clientes”, afirmou Daniel Moretto, diretor comercial da CSU.
A CSU possui soluções em meios de pagamento para conectar bancos, financeiras, varejistas e empresas de serviços aos seus mercados e consumidores. “Em até 90 dias conseguimos implantar um modelo tecnológico de loja conceito em lojas e supermercados. Nosso papel é fornecer essa infraestrutura”, explicou Moretto.
Tendências
Diante desse cenário de ‘fintechzação’, como se manter competitivo no mercado?
Na opinião de Vasco Pineda, launcher and business head Brasil da Yuno, cada vez é mais fundamental saber utilizar as novas tecnologias. Na Yuno, por exemplo, a inteligência artificial (IA) já é utilizada em boa parte da operação de uma de suas principais clientes no País, a Rappi.
“No Brasil, muitas empresas estão oferecendo serviços financeiros. Queremos, por meio de ferramentas e de tecnologia, facilitar esse processo. O usuário final tem que se sentir confortável para fazer transações. Estamos fazendo uma pesquisa para entender o que as empresas querem oferecer, para que possamos facilitar seus sistemas de pagamento”, contou Pineda.
Outras importantes tendências tecnológicas apontadas pelos executivos no intuito de proporcionar uma experiência fluida ao usuário, segura e de forma a prevenir fraudes, são a expansão do 5G, o IOT, a Internet das Coisas, a tokenização, além da própria IA. “A tecnologia, além de ser uma facilitadora, possibilita que o ser humano tenha mais tempo para si, mais tempo para evoluir enquanto ser humano”, concluiu Moretto.
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