Inovação tem sido um termo forte na economia por várias décadas. Muitas vezes é citada como uma forma inquestionável de competitividade e avanço em mercados e desenvolvimento de negócios: se não há inovação, não há chances! Entretanto, a observação precária de nossos dias sempre busca a ocorrência da inovação radical, da disrupção total de mercados, modelos de negócios, aplicação de novos materiais e mudanças expressivas nos estilos de vida e formas de organizar.
Se de um lado estes aspectos resultam em identificar apenas os casos mais evidentes de quebras de paradigma como inovação, elencando grandes eventos de mercado como reais inovações, por outro lado aparentam deixar de lado um grande conjunto de mudanças significativas, as inovações incrementais. Nestes casos, o inovador, tipicamente um empreendedor ou agente de negócios, propõe uma mudança ou evolução de menor porte em seu modelo de negócios e/ou tecnologia, num próximo posicionamento de valor a ser ofertado aos clientes e ao mercado.
Baseando-nos na fundamental conceituação de Joseph Schumpeter, exemplarmente usada em materiais de orientação sobre inovação, como o Manual de Oslo (que recomendamos a consulta e leitura), a inovação incremental corresponde por algo que frequenta nosso dia a dia nas ações de pequenos e médios empreendedores. Por exemplo, quando se adiciona mais um perfil de cliente ao plano de ações de mercado, ampliando a oferta pela modificação de preços, tecnologia, forma de negociação ou aspectos de produto ou serviço, temos possivelmente uma inovação incremental.
E o que dizer de nossas contínuas “atualizações de versão de aplicativos”, constantemente feitas, muitas vezes sem sequer termos atenção para tal? E se as incorporações desta “nova versão” (baixada e instalada de maneira automática), feitas pelas plataformas – tornadas cotidianas pelo acesso inevitável aos smartphones – resultarem numa mudança de interface ou na incorporação de uma nova funcionalidade, forma de pagamento, oferta de mais produtos ou serviços complementares, entre outros desdobramentos? É bom lembrar que isso ocorre continuamente, havendo versões semanais ou quinzenais, como é típico em serviços rotineiros, como bancos, planos de saúde, serviços públicos, de informação, etc. É a inovação incremental nos alcançando.
Verificamos, em nossa abordagem para com as artes, como a inovação incremental sempre foi uma forma de agir próxima de artistas, em várias formas de expressão. Primeiramente, considerando a tecnologia imediata, de aplicação. No uso de formas diversas da combinação de tintas, dos compostos químicos – por exemplo, alterando um composto de secagem rápida para um que tomaria mais tempo – um pintor expressa, diante da aplicação continuada de camadas de tinta, a mudança de suas expressões e sentimentos por um período mais largo de tempo. O uso extremo de telas, de molduras diferentes ou mesmo de sua eliminação como suporte, criando a sensação de “infinito”, traz a expectativa de continuidade e expansão às obras, gerando uma perspectiva de diálogo constante com o espectador. Tais recursos são encontrados em várias produções de pintores contemporâneos, em evolução ou buscando a ruptura (inovando, portanto) com relação às escolas tradicionais. Refletem uma mudança simples em termos tecnológicos, mas de expressão num contexto artístico.
Na Música, retomando nossa incessante observação sobre as “escolas” de forma e conteúdo, vários compositores, com destaque para, sempre, Wolfgang Amadeus Mozart, definiam, em suas criações, variantes das formas adotadas para sinfonias, sonatas e concertos, modificando tempos, criando novas inserções, abrindo espaços aos “virtuosos” – solistas – entre outras formas. Não se propunha a criação de uma nova forma integral, modalidade sonora, arranjo espacial da orquestra – diga-se, empreendidos por artistas como Mozart, Beethoven, Strauss, Wagner, entre outros – que podem perfeitamente ser qualificadas como “inovações radicais”, mas mudanças progressivas na produção em si, na forma de expressão e no contato com o ouvinte ou espectador, resultando numa nova interação em modelagem de negócios ligeiramente diversa da anterior, mas consistente.
Uma vasta gama de profundas e continuadas alterações nas artes que observamos atualmente foram geradas a partir de inovações incrementais: mudanças em escolas de pinturas, como as formas do cubismo (em si, uma inovação radical na proposta, composta posteriormente de inovações incrementais progressivas), inclusões de novos movimentos em arranjos sinfônicos, uso de técnicas de maior expressão em pintura e música, entre várias outras.
No aspecto prático, as inovações incrementais têm papel importante principalmente para os pequenos e médios empreendedores, pois, impondo menores demandas de investimentos e admitindo riscos mais controlados, diante de maior controle sobre a dimensão total das mudanças, estão mais ao alcance de agentes de negócios com recursos limitados. O pequeno empreendedor pode, por exemplo, adotar mudanças delimitadas em sua oferta, modificando sua loja (física e/ou virtual) progressivamente, sentindo-se no controle, na gestão de riscos e modificando seus princípios culturais – muitas vezes inflexíveis no caso brasileiro – tornando-se um inovador!
Ainda baseando-nos na teoria discutida para inovações, há um fator importante sobre as inovações incrementais e seus relacionamentos com as versões “maiores”, de maior mudança: há a possibilidade do acúmulo de inovações incrementais, gerando, ao final, uma percepção de adição, de sobreposição, de sinergia. Assim pensando, como nas artes, cada pequena mudança vem para ficar, para dar suporte às próximas. E, ao final, se observamos por um longo período de tempo, a soma destas incrementais, gerou uma inovação radical, adotada em patamares progressivos.
Que tal pensar como na Arte? Que tal progredir, avançar, reagindo às crises, oportunidades e competição do mercado, mudando suas “telas, pincéis, acordes e compassos”? Inovação incremental: a todo momento, uma mudança de oferta!
Ao leitor:
Nossa proposta, nesta coluna, não é ensinar ou promover a crítica de Arte, em geral. É de provocar a reflexão sobre temas da gestão, como inovação, estratégia, marketing, transformação digital, entre outros, motivada por reflexões a partir da Arte.
Artigo escrito por George Leal Jamil. Ele é professor e consultor em temas de educação executiva. Engenheiro, MsC em Computação, Dr. em Ciência da Informação, pós-doutorados em Inteligência de Mercado e Empreendedorismo. Autor e editor de livros no Brasil e exterior. Colunista da plataforma Inovativos.