Inovação Digital e Tecnologia na Centralidade do Cliente

A inovação e a agenda verde: lados de uma mesma moeda

Educação ambiental e transformação cultural são peças chaves para o destino de resíduos, segundo especialistas

O painel “Sustentabilidade: onde a Circularidade e a Tecnologia se encontram” abriu as discussões na 4ª edição do Innovation Xperience Conference, evento do Grupo iX e correalizado em 2022 com a SP Negócios. A iniciativa conta com o apoio do Movimento Inovação Digital e da FecomercioSP.

Representantes de startups de peso ligadas à sustentabilidade, e apoiadas pelo Green Sampa, são unânimes em dizer que é preciso ocorrer uma transformação cultural no Brasil e que a Educação é fundamental quando o assunto é resíduo. A mediação do painel foi de Bárbara Almeida Ladeia, head do programa Green Sampa, iniciativa pública de fomento ao ecossistema de negócios verdes.

Daniela Pereira, CEO e Founder da Startup Circulagem, que desenvolve soluções em Economia Circular, com inclusão de cooperativas de reciclagem, foi a primeira a contar suas experiências. “Há mais gargalo no parque reciclador como um todo do que na cooperativa. Uma pequena parte vai para a cooperativa e ela consegue dar vazão. Mas uma grande porção vai para o aterro sanitário. Logo, começamos a nos posicionar trazendo outras tecnologias como a triagem mecanizada”, ressaltou Daniela.

A CEO da Circulagem destacou também a reciclagem do vidro, com programa de garrafas retornáveis, além da reciclagem química de resíduos mais complexos, como embalagens multicamadas ou o plástico colorido com corante. “Com a tecnologia, viabilizamos a conexão do que a cooperativa pode apresentar para a indústria e do que a indústria realmente precisa da cooperativa. E quando percebemos que a tecnologia não está no parque reciclador nacional, buscamos fora do Brasil.”

Ela defende que não basta a empresa ter uma cooperativa, é preciso também educação ambiental. “Sustentabilidade é bonito. Mas não funciona quando não se tem lixeiras separadas para cada resíduo, por exemplo”, disse.

Resíduos orgânicos

Felipe Gandolfi, sócio da Regera, que coleta resíduos orgânicos, destacou que metade do que as pessoas geram é orgânico, sendo que 99% desses resíduos acabam em aterros ou lixões. “A primeira tecnologia que utilizamos é a própria natureza. Temos uma estratégia para viabilizar o retorno desses recursos biológicos e econômicos para a cadeia de produção e consumo”, afirmou Gandolfi.

A Regera possui um sistema de coleta de resíduos orgânicos domésticos por meio de baldinhos, distribuídos a famílias. “Esse resíduo é coletado, muitas vezes por pessoas em bicicletas, e encaminhado à compostagem” afirma ele, que diz usar também a tecnologia social, realizando a inclusão de todos os envolvidos no processo.

Gandolfi acredita que é preciso enfrentar uma transformação cultural em relação ao destino dos resíduos sólidos. “E faremos isso através de educação e da comunicação. É preciso parceria entre a sociedade, o poder público e as empresas para essa transformação. Juntos, somos um oceano”, destacou o sócio da Regera.

Construção civil

Vanessa de Mani, CEO & Founder da Be Sun, especializada em resíduos da construção civil, citou que mais de 80 bilhões de toneladas são geradas por dia no Brasil, sendo responsável de 50% a 70% de todos os resíduos gerados. “Apenas 20% são reaproveitados”, acrescentou Vanessa.

A startup busca trazer de volta esse material que pode ser reutilizado e vendido à população de baixa renda por um preço irrisório. “Estou falando de reuso. Amarrar as pontas soltas entre o B2B e o B2C”, afirmou ela. A Be Sun usa a tecnologia da rastreabilidade para unir as duas pontas: encontrar aquele que tem o material e aquele que pode comprá-lo. “Usamos ainda geolocalização, onde conseguimos verificar onde esse material está sendo gerado e onde ele pode ser levado com o mínimo trajeto.

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Consequentemente, minimizamos os impactos de emissão de carbono”, afirmou. Para Vanessa, entre os desafios está o de conscientizar que materiais podem ser reutilizados. “Na indústria e no comércio, peças com defeitos são descartadas. Considera-se que voltar o produto à prateleira vai comprometer a imagem da empresa. Precisam enxergar que defeitos que não tragam riscos de acidentes e à saúde, como
manchas, podem chegar àqueles que não têm condições de adquirir uma peça nova”, destacou.

Compartilhamento de bens

Eryka Augusto, CEO da u-Shar, marketplace para o compartilhamento de bens, também participou do Painel. A startup cria estantes que são implementadas em condomínios, locais públicos, coworkings, entre outros, onde existem um mix de produtos para aluguel. “Temos sistema de check-in e cheque-out. E utilizamos a Inteligência Artificial para rastrear esse bem”, explica Eryka.

A CEO da u-Shar dá como exemplo uma furadeira. Segundo ela, o equipamento é utilizado por apenas 16 minutos em seu ciclo de vida. Além disso, só se recicla 3% do que é produzido. De 400 a mil pessoas podem ser atendidas por essa furadeira. “Com o compartilhamento, evitamos a geração de carbono. Vamos tokenizar créditos de carbono e disponibilizá-los no mercado voluntário, ou seja, todos que fazem parte do ecossistema irão receber uma parte”, ressaltou ela.

Ainda de acordo com Eryka, as pessoas têm R$ 12 mil de bens ociosos parados em casa e ocupando espaço. “Na plataforma, gera-se de R$ 4 mil a R$ 8 mil de receita por mês com a locação de produtos. “Segundo a ONU, a economia do compartilhamento vai impulsionar a economia circular”, finalizou.

Resíduo eletroeletrônico

José Sales Neto, cofundador da Metarecicla, startup especializada em resíduo eletroeletrônico, ressaltou o grande potencial econômico desse produto. “O reciclador vai querer reciclar o parafuso, vai derretê-lo, reprovando a sua tecnologia. Nós utilizamos o parafuso como parafuso, com tecnologia, aperto, junção”, enfatizou Sales Neto.

Segundo ele, temos 90 milhões de toneladas de lixo eletrônico todos os anos. “O lixo eletrônico começou a se misturar com a Cultura Maker”, diz. A cultura maker se baseia na ideia de que as pessoas devem ser capazes de fabricar, construir, reparar e alterar objetos.

São processadas 10 toneladas de lixo eletrônico na comunidade da Brasilândia, na capital paulista, com tecnologia e mão de obra local. “Temos lixeiros higtech”, afirmou.

No último curso de metareciclagem, formaram-se 180 professores que estão trabalhando com 4 mil alunos. “Em janeiro, estaremos em Luanda para impactar 56 mil alunos. A cidade tem muito lixo eletrônico, mas eles não dominam ainda a reciclagem”, contou Sales Neto.

“Conseguimos reutilizar aquela peça, virando um protagonista dessa transformação mundial. Isso é empoderamento tecnológico. Todos podem desenvolver tecnologia e criar locais de processamento e usar isso para a educação”, finalizou o cofundador da Metarecicla.


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