Toda transação realizada com cartão, seja no débito ou no crédito, gera uma obrigação de pagamento da credenciadora (empresa da maquininha) para o estabelecimento comercial: os chamados recebíveis de cartão. Esses ativos devem ser registrados nas chamadas “registradoras”. A partir daí, eles podem ser negociados, seja em uma antecipação ou como dados como garantia na tomada de crédito em instituições financeiras e não financeiras.
Esse é um mercado já consolidado, porém isso não significa que não existam desafios – ainda mais com tantas mudanças tecnológicas em curso. Esse foi o ponto de partida para a palestra promovida pelo Movimento Inovação Digital (MID) em parceria com a B3, Pismo e com a cobertura exclusiva da Inovativos.
“Ambas as organizações (Pismo e B3) figuram como empresas engajadas no quadro de nossa associação. Das mais de 150 associadas, cerca de 60 são atuantes em serviços e soluções financeiras. E, juntas, espelham os avanços observados no mercado de recebíveis de cartões”, afirma Marcos Carvalho, diretor geral do Movimento Inovação Digital (MID).
A interface pouco conhecida da B3: registradora
A B3 se consolidou como uma das principais empresas do mercado de ações e infraestrutura de mercado financeiro, o que inclui a criação e administração de sistemas de negociação, compensação, depósito e registro para as principais classes de ativos.
No histórico de operações da B3, o mercado de recebíveis de cartões veio um pouco depois, segundo o Superintendente de Produtos. “Esse foi um dos poucos negócios que a B3, em um primeiro momento, não participou ativamente da fase inicial de construção do ecossistema. Mas aderiu, na sequência, abrindo ainda mais seu leque”, explica Fernando Bianchini, Superintendente de Produtos da B3.
Bruno Santiago Salles, Analista Sênior de Produtos da B3, falou sobre os desafios do segmento nos últimos anos. Um deles começou em julho do ano passado, a partir do início da vigência de uma regulação desse mercado – justamente em um momento em que a B3 estava às vésperas de receber uma autorização do Banco Central para atuar como registradora de recebíveis de cartões.
“Paralelamente a isso, como parte da demanda regulatória, fizemos os testes com as registradoras e com a base de controle. E nossa produção começou em março deste ano”, explica.
Um dos desafios do segmento de recebíveis, segundo Salles, é a necessidade de um diálogo contínuo com os agentes do mercado, em busca de novas soluções. “O mesmo deverá ser feito com os reguladores. É preciso instituir uma conversa franca, transparente, um canal aberto, onde consigamos colher as percepções de todos os envolvidos. É importante um monitoramento ativo das operações, para que reduzamos os riscos do processo, bem como as contestações ao longo da cadeia. Para que funcione bem precisamos de um atendimento de qualidade, com ferramentas ágeis”, finaliza.
No encontro, a Pismo, empresa global de tecnologia para serviços bancários e de pagamentos, contou sobre a sua atuação no mercado e como tem sido a parceria com a B3.
Hoje, grandes bancos, fintechs, marketplaces e outras companhias já utilizam os serviços em nuvem da Pismo. A empresa já processou mais de R$ 90 bilhões no ano passado, ou seja, mais de 50 milhões de operações diariamente, segundo explica Carolina Frazatti Benez, Product Manager de recebíveis da Pismo.
Pismo
Pedro Correia, Tech Lead da Pismo, que esteve à frente da parte técnica do projeto, fala que foram utilizados bancos de dados não-relacionais que têm, como diferencial, a capacidade de escalabilidade
para as operações das empresas de uma forma mais simples e econômica, entregando alta performance.
“Trata-se de uma plataforma que disponibiliza, inclusive, deploys canários, ou seja, uma ferramenta que nos ajuda a adicionar novos recursos enquanto mantemos, em paralelo, a versão anterior. Assim é possível testar novas funcionalidades, verificar a adaptação dos usuários e avaliar o tráfego. Na computação em nuvem utiliza-se a infraestrutura como código, permitindo subir informações de clientes em segundos, qualquer que seja seu porte. Fora a tecnologia para recebíveis de cartões, a parceria B3/Pismo se estende também para o registro de duplicatas mercantis, de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e de Recibos de Depósito Bancário (RDBs)”, conclui.
Está iniciada uma revolução na área financeira. O mercado de recebíveis de cartões seguramente irá atrair, cada vez mais, a geração de novos modelos de negócios. A iniciativa do Banco Central, ao atualizar normas do setor, fomenta o crédito privado e estimula custos mais baixos, abrindo espaço para a livre concorrência entre os agentes, o que irá beneficiar toda a economia.
Descomplicando o registro de recebíveis
Registradora
É uma entidade criada pelo Banco Central com o objetivo de registrar todos os valores que uma pessoa jurídica ou física irá receber por vendas realizadas por meio de cartão de débito e de crédito. E isso vale tanto para as vendas usando maquininhas quanto para as vendas online. A registradora funciona de forma semelhante a um cartório, que faz o registro de um imóvel em uma matrícula, com todas as informações referentes
a ele. Na registradora o processo também reúne dados completos dos recebíveis: a credenciadora que capturou a transação, o arranjo, a data em que aquele recebível deve ser pago, além das informações cadastrais de quem irá receber o pagamento.
Credenciadora
É a instituição de pagamento autorizada pelo Banco Central que realiza a captura, o processamento e a liquidação das transações e o seu respectivo registro perante a registradora.
UR
A Unidade de Recebíveis é o ativo financeiro composto por recebíveis de arranjo de pagamento, reunindo as seguintes informações: data da venda + dados do cartão e bandeira + dados da credenciadora ou subcredenciadora + valor da venda realizada
Agenda de recebíveis
É o conjunto de transações feitas pela pessoa jurídica ou física pela aquisição de mercadorias ou por serviços prestados.
Antecipação de recebíveis
A pessoa jurídica ou física pode pedir antecipação de recebíveis em qualquer instituição que tenha
interesse em prestar esse serviço financeiro. Isso só é possível porque, com as registradoras, as instituições conseguem visualizar os recebíveis futuros e, com isso, realizar uma oferta para antecipá-los. Significa mais segurança com os dados e mais facilidade em usá-los para negociar empréstimos. O acesso às informações das vendas não é público e depende de uma autorização dada pelo cliente para a instituição que deseja consultar os dados.
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