Antes da pandemia, era possível acompanhar algumas empresas afirmando que estavam passando por uma grande transformação digital. No discurso, os processos estavam mais ágeis, os colaboradores tinham “flexibilidade”, reuniões podiam ser feitas via conferências e assim por diante. Até que a pandemia veio para mostrar que poucas organizações estavam realmente preparadas para operar digitalmente.
“Na verdade, ninguém estava muito preocupado com a transformação digital, iam sempre adiando, mantendo aquele status quo, aquela mudança lenta de gente que mora no passado e que não tem vontade de olhar para o futuro”, relembra Carlos Piazza, futurista e darwinista digital, durante a sua apresentação na 3ª edição da iX Conference. Segundo ele, este é um movimento natural, porque isso demanda muita criatividade, um pensamento de ficção, um design de futuro, constatar que, talvez, a gente não tem as ferramentas necessárias. E fazemos o quê? “Replicamos os modelos do passado”, responde.
O passado, segundo Piazza, é um lugar que as pessoas adoram. “É um local onde a gente já viveu, seguro e quentinho demais para abandonar”, enquanto falar de “futurismo estratégico é desafiador, porque talvez não tenhamos os skills que deveríamos ter para enfrentar esse novo tempo com precisão”. Para Piazza, abordar o futuro é uma premissa fundamental. “Se eu não me apropriar do futuro, ele vai chegar com muita propriedade sobre todos nós”, reforça.
“Estamos chegando numa era em que não posso mais usar o humano como recurso, e as empresas continuam tendo uma área de recursos humanos. Elas conseguem fazer cosmética em cima disso e chamam a área de ‘gente’, mas na realidade, o que acontece é que as pessoas estão fazendo tarefa de uma máquina ruim”, refletiu. Está na hora, segundo ele, de olhar para frente, o que consiste em rever um monte de coisas, incluindo o processo de educação atual.
“Estamos chegando numa era em que não posso mais usar o humano como recurso, e as empresas continuam tendo uma área de recursos humanos. Elas conseguem fazer cosmética em cima disso e chamam a área de ‘gente’, mas na realidade, o que acontece é que as pessoas estão fazendo tarefa de uma máquina ruim”
“A gente continua sendo treinado para ser alguém na vida, o que sempre foi ter uma especialidade para que você pudesse ter o conhecimento necessário para você fazer o papel da engrenagem no pino da produção”, explicou. O futurista explicou que fomos acostumados a ouvir nossos pais dizendo que precisamos tirar notas boas para conseguir o diploma, que está em questionamento hoje em dia. “A gente olha paixão com muito mais potência que o estudo forçado”.
A projeção de tudo isso é você ser contratado por uma grande empresa, ter um cargo de chefia, ter um cargo reconhecido, ter grana, tudo isso que leva as pessoas a ter coisas finalmente. “A gente foi forjado uma vida inteira para ter coisas, mas será que não caímos numa armadilha? A gente cedeu o lado ‘ser humano’ para ‘ter humano’, porque a grande pressão que há hoje é para ter coisas, e cada vez mais. Mas as novas gerações não querem ter nada, são livres, inclusive da ideia de ser alguém na vida”.
Em um papo que envolve passado, presente e futuro, filosofia, tecnologia, ressignificação do trabalho, propósito de vida e muito mais, Piazza convida você a refletir sobre o seu papel no mundo, seja como empresa ou como indivíduo.
Assista à apresentação na íntegra abaixo ou escute o podcast completo aqui.