Lideranças dos segmentos de Varejo e Finanças debatem as oportunidades mútuas possibilitadas através da tecnologia e inovação.
Todos os negócios, em maior ou menor grau, foram lançados a um processo de transformação digital nos últimos anos – e que se acentuou a partir da pandemia. O varejo é um bom exemplo. Estima-se que apenas 6% de todo o varejo brasileiro estava no comércio eletrônico antes da COVID-19. Com o início das medidas restritivas de circulação, o e-commerce cresceu substancialmente: o faturamento cresceu 41% e há uma projeção de que 12% dos varejistas do País já estejam vendendo os seus produtos em sites próprios, aplicativos ou marketplaces.
Se o percentual de penetração digital ainda revela números tímidos se comparado com outros países como a China e EUA, há um lado realmente animador em tudo isso: existem muitas oportunidades para um País com dimensões superlativas.
Antes, no entanto, as empresas precisam resolver algumas pendências do balcão de atendimento para dentro da companhia. Afinal, será que todas as empresas estão ou estavam preparadas para a mudança? Para discutir o assunto, com o apoio da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), FecomercioSP, Deal Technologies e Grupo Innovation Xperience, foi realizado o debate “Varejo e Finanças: a convergência através da tecnologia”.
Mediado pelo presidente da ABO2O, Vitor Magnani, o encontro iniciou abordando a necessidade de discutir a transformação digital no varejo a partir de uma mudança cultural. O assunto só parece óbvio.
“Passamos por mudanças significativas de inclusão. Muita gente sequer tinha uma conta bancária ou não acessava a conta corrente por meio de um dispositivo móvel. A partir da pandemia, muitos tiveram a primeira experiência financeira, especialmente para receber o auxílio emergencial. Mas isso não é motivo de comemoração. Toda essa tecnologia já estava disponível no País e a pandemia veio exatamente para forçar essa inclusão digital. Muitos empreendedores de nosso País não têm noção do que é necessário para conseguir operar nesse ambiente digital”, explicou Magnani.
Em outras palavras, antes de falar em transformação digital é preciso entender como vai ocorrer o processo de inovação. E inovar é um processo exclusivamente humano e que depende de uma nova realidade corporativa.
De acordo com Georg Buske, diretor de TI da Dafiti e um dos convidados do encontro, a inovação está menos relacionada à tecnologia e mais ao fator cultural. Na Dafiti, ele afirma que o processo de inovar depende de quatro pilares: processo de priorização consciente e transparente; multidisciplinaridade; autonomia máxima; e foco no cliente.
“No processo de priorização consciente e transparência, não adianta diversas pessoas trazerem ideias diferentes para uma reunião. É preciso ter uma prioridade mensal. Outro ponto é a multidisciplinaridade. Não adianta ter um time de designer, outro de engenharia, um time de marketing. É preciso criar pequenos grupos multidisciplinares, com cabeças diferentes, para atacar um único motivo. O terceiro ponto é a autonomia máxima ou a liberdade para decidir coisas para avançar e inovar. Por fim e não menos importante: o foco no cliente”, disse.
Após a fala de Buske, Vitor destacou um ponto importante a partir da fala do executivo da Dafiti: o “vício” sobre o tal lugar da fala de inovação na empresa. Por anos, a inovação estava delegada às atividades cujo core envolve a criatividade, como é o caso do marketing e da publicidade. “Hoje, vemos que várias empresas em processo de transformação digital ou que são as nascidas digitais realizam squads, que são reuniões de pessoas de diferentes áreas, para tentar solucionar um problema ou de fato ter um novo produto ou serviço”, explica.
Para Marcelo Lopes Vilela, diretor de TI do Tribanco, instituição financeira do Grupo Martins, a transformação digital e o processo de inovação serial passam por uma mudança de mindset na companhia e algo que ele define como “desdepartamentalização” da companhia. O palavrão neologístico é algo simples de entender. “Eu costumo dizer que a transformação digital é uma transformação cultural. Não é apenas pegar processo e automatizar. É a forma de pensar. É cocriar, implementar squads e empoderar esses grupos. O grande desafio é “desdepartamentalizar”, ou seja, criar os times multidisciplinares ou criar tribos que farão fluir o conhecimento e a inovação, mas sempre olhando o cliente no centro”, explica.
Natalia Tukoff, diretora comercial e de marketing da Yapay, plataforma de meios de pagamento do ecossistema da Locaweb, concorda com a formação de times multidisciplinares a partir da organização de squads. No entanto, ela afirma que as empresas devem dar um passo atrás antes de pensar na formação desses grupos. Segundo ela, o coração da mudança está nos times de gestão e de pessoas.
“O time de gestão e de pessoa deve pensar, permitir e incentivar no dia a dia a contratação de colaboradores que sejam multiskills, que venham para formar um time com pessoas que se ajudam, que remam juntas e façam as coisas acontecerem. Se isso ocorrer, há grandes chances desse processo de inovação dar certo. As coisas se resolvem no grupo: a gente chama cada representante do grupo, discute a implementação e tudo é menos burocrático”, explica.
Marco Lucio Moreira, partner da Deal, empresa referência em inteligência de dados e transformação digital, listou ainda mais um item importante para o processo de cultura digital ao lado da definição de grupos multidisciplinares, modo de trabalho, foco no cliente e a própria cultura corporativa como um todo: é entender que tudo é ciclo perene na companhia e não algo pontual, um mero case de sucesso. “Isso não é um sprint, mas uma maratona. Ela nunca acaba. Toda a cultura tem que ser mudada, tem que ser alterada. Se você tiver uma cultura do físico e for para o digital, você sempre vai ter sotaque. Não tem jeito. O fator cultural é sempre fundamental”, disse.
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