A inovação passa pela inclusão. Essa é uma das lições que Priscila Gama, presidente do Instituto Das Pretas, de Vitória, no Espírito Santo, traz ao longo do painel “Inovação fora do eixo – mulheres negras em ação” do IX Conference 2020, que também contou com a participação de Caroline Moreira, fundadora e CEO do Negras Plurais.
O Instituto das Pretas surge a partir de um evento, o Encontro das Pretas, que reúne mulheres de histórias e formações muito diversas. “Começamos propondo soluções para as nossas demandas no setor público e privado. Depois, configuramos um laboratório de inovação e tecnologia social”, explica Priscila.
A empreendedora afirma que a inovação é algo que a mulher negra domina por conta da vivência de mundo, da sua trajetória. “Essa capacidade inventiva da mulher negra está diretamente relacionada à adaptabilidade pelo qual nós fomos obrigadas a passar para que sobrevivêssemos”, afirma.
Priscila aponta para a virada da pirâmide social, que hoje tem as mulheres negras na base, a partir dos movimentos de gênero e raça. “A ideia é que a sociedade nos veja como capazes de ensinar ao restante como promover essa adaptabilidade própria das mulheres negras”, acrescenta.
O instituto do qual Priscila faz parte traz esse protagonismo da mulher negra tanto na parte cultural e educacional como no desenvolvimento de novos negócios. O grupo criou um projeto chamado Quilombinho, que conta histórias da cultura negra para crianças negras e não-negras.
No campo dos negócios, criou um incubadora para afroempreendedores que conta com dois projetos em fase de incubação. Um deles é o aplicativo Fortalece, que vai entregar comida de empreendedores da periferia e também servir os moradores. “É um rearranjo econômico para a periferias que decidimos fazer por conta de uma demanda interna da comunidade, os apps não fazem o escoamento a partir da periferia para os centros e não servem aos moradores da periferia”, explica. O projeto será lançado no próximo dia 20, Dia da Consciência Negra.
Lideranças negras
Caroline Moreira é fundadora e CEO do Negras Plurais, rede de aceleração de negócio de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A empresa surgiu há mais de dois anos com a ideia de trabalhar demandas da mulher negra e derrubar barreiras que impediam essa parte da população de empreender. “Procuramos formar uma base de mulheres negras para ensinar outras mulheres negras a empreender e a utilizar toda a potência que possuímos. Estamos nos tornando uma startup com uma plataforma de conteúdo, juntando mentores de diferentes áreas do conhecimento”, detalha.
A empreendedora afirma que há avanços na democratização das oportunidades e que eles são devidos, principalmente, à ação de empreendedoras que trilham esse caminho há tempos. “A gente, há algum tempo, está procurando dentro das empresas lideranças negras e agora as empresas estão aprendendo a ver que essas lideranças trazem números. Antes, essas pessoas eram vistas apenas com potencial para trabalhos operacionais. Temos a necessidade de trocar esse dinheiro de mãos. O Brasil não anda sozinho, não é só o topo da pirâmide que movimenta a economia. As pessoas que estão no topo precisam do restante”, conclui.
O painel foi mediado pela jornalista e colunista da Forbes, Angelica Mari.
Assista ao painel na íntegra: