R$ 38,8 bilhões. Esse foi o faturamento com as vendas online no Brasil somente no primeiro semestre de 2020, segundo pesquisa da Ebit/Nielsen. Ao todo, foram feitos 90,8 milhões de pedidos entre janeiro e junho deste ano, números que mostram um crescimento de 47% no setor – a maior alta em 20 anos. É claro que as compras online já vinham apresentando um crescimento contínuo, mas é inegável que a pandemia de Covid-19 e o isolamento social mudaram o comportamento no consumo, e as soluções em meios de pagamento contribuíram muito para esse processo.
Em um bate-papo exclusivo, Juan Pablo D´Antiochia, General Manager Latin America na Worldpay from FIS, explica como as novas tecnologias vêm influenciando o comércio como um todo, impulsionando os negócios e contribuindo com a economia digital. Segundo o executivo, “ao oferecer métodos de pagamento mais convenientes aos usuários, cria-se um ecossistema que possibilita novos negócios e novas tecnologias, que podem revolucionar todo o setor, criando um círculo virtuoso”. Confira abaixo a entrevista na íntegra.
Em suas próprias palavras, como você define a Worldpay e seus serviços e a que tipo de público se dirigem as soluções?
Juan Pablo (JP) A Worldpay combina o fato de ser líder em escala na indústria de pagamentos com a oferta de tecnologia integrada incomparável, levando os pagamentos de comércio eletrônico ao futuro e impulsionando o crescimento de negócios globais. As empresas não precisam mais acumular diversas soluções de pagamentos ao redor do mundo, cada uma de um fornecedor diferente. Agora, todas estão disponíveis por meio de uma empresa global, alimentada por dados de mais de 40 bilhões de transações anuais, que oferece os pagamentos avançados que as empresas precisam para crescer. As soluções que a Worldpay oferece no Brasil são voltadas a comerciantes com operações de eCommerce, sejam elas nacionais ou internacionais.
Quais são as principais tendências para métodos de pagamento hoje em dia e como elas impulsionarão os negócios?
(JP) Com toda a certeza, os pagamentos digitais são o futuro. Em 2019, com uma população de 210 milhões de pessoas, o Brasil já tinha mais de 230 milhões de smartphones em operação – e todas as tendências emergentes de pagamento passam pelo aparelho. Estamos falando de eWallets, códigos QR, transações sem contato e instantâneas, como o PIX, que o Banco Central está prestes a lançar. Eles têm em comum atributos como velocidade, conveniência e segurança. Eles podem tornar os processos de checkout mais “invisíveis”, o que incentiva o cliente a comprar mais, pois a experiência de compra é melhor.
Como a pandemia incentivou o uso de práticas de pagamento mais inovadoras? Você poderia nos dar alguns exemplos?
(JP) Antes da pandemia, o uso de códigos QR para fazer pagamentos já era uma tendência emergente no Brasil. No entanto, a necessidade de evitar o contato com dinheiro, cartões e maquininhas deixou as pessoas ainda mais interessadas por eles, pois basta um smartphone para efetuar um pagamento. O mesmo pode ser dito sobre os pagamentos contactless: você pode usar seu celular ou cartão para se aproximar das maquininhas e fazer pagamentos de até R$ 100 sem a necessidade de inserir a senha. Também vimos muitas empresas recém-chegadas ao modelo de delivery compartilhando links do PicPay por meio de conversas no Whatsapp com seus clientes.
Qual é o papel do setor de meios de pagamento na economia digital?
(JP) Vivemos em um mundo conectado e os pagamentos são uma grande parte disso. Quanto mais nossos hábitos diários se tornam digitais – compramos online, trabalhamos online, estudamos online, nos socializamos online – mais digitais devem ser nossos pagamentos. Enviar dinheiro ou fazer um pagamento não deve ser mais difícil do que enviar uma mensagem de texto.
Ao oferecer métodos de pagamento mais convenientes aos usuários, criamos um ecossistema que possibilita novos negócios e novas tecnologias que podem revolucionar todo o setor, criando um círculo virtuoso. Mais do que isso, ainda existe uma grande parcela de brasileiros que usa dinheiro vivo porque não sente que os meios de pagamento disponíveis trazem benefícios a ela. Existe um enorme potencial em oferecer soluções de pagamento que atendem verdadeiramente às necessidades de cada grupo de clientes. Para os comerciantes, no final das contas, isso significa mais vendas.
Quanto mais nossos hábitos diários se tornam digitais, mais digitais devem ser nossos pagamentos
O Brasil é um país que ainda tem o dinheiro como forma de pagamento mais comum nos pontos de venda. Como podemos mudar esse cenário e em quanto tempo podemos imaginar um futuro com poucas – ou nenhuma – cédula em circulação?
(JP) O Brasil, e a América Latina em geral, são mais apegados ao dinheiro do que outras regiões, principalmente devido à sua grande população sem ou com pouco acesso a serviços bancários. No entanto, o uso de dinheiro também está caindo lentamente na região. No Brasil, devemos ver grandes mudanças nos próximos anos, com o lançamento do PIX, a plataforma de pagamentos instantâneos, e conforme a população comece a ver os benefícios das transações instantâneas.
A regulamentação do Open Banking no País também deve criar um ambiente que estimula a concorrência e a criação de novos negócios e soluções que atraiam a população desbancarizada, levando-a em direção a uma economia mais digital. Devemos também mencionar as eWallets: em 2018, 11% dos pagamentos online e 3% dos pagamentos nos pontos de venda foram concluídos com carteiras digitais. Elas estão, lentamente, ganhando participação de mercado na região, com marcas locais como Mercado Pago, PicPay, Ame e iti sendo ainda mais relevantes do que players internacionais como Apple, Google ou Samsung. É muito provável que o Brasil passe de uma economia baseada em pagamentos em dinheiro diretamente para uma economia baseada em pagamentos digitais. É provável que parte da população que não usa cartões de crédito ou débito adote eWallets e o PIX como seus métodos de pagamento preferenciais.
No Brasil, devemos ver grandes mudanças nos próximos anos com o lançamento do PIX
O quanto importante é uma estratégia de pagamento correta para a expansão internacional das empresas?
(JP) Ela pode fazer toda a diferença. Ao almejar um novo mercado, em qualquer parte do mundo, um dos principais desafios do lojista é prestar atenção na forma como aquela região paga, certificando-se de estar oferecendo opções de pagamento que façam sentido naquele país. Cada país paga de forma diferente, porque a escolha de como pagar está ligada a aspectos culturais, sociais e econômicos que são peculiares de cada mercado. Encontrar um parceiro que já sabe como cada mercado paga é fundamental. Por exemplo, um varejista estrangeiro que deseja vender no Brasil precisa oferecer aos clientes parcelas e boleto bancário, correndo o risco de as taxas de conversão caírem significativamente caso contrário.
Tanto as parcelas quanto o boleto são pouco conhecidos por comerciantes de outros países. Vale ressaltar também que o Brasil possui um intrincado conjunto de regulamentações sobre o mercado de pagamentos, o que dificulta a atuação de comerciantes estrangeiros sem um parceiro ou uma equipe local numerosa e multidisciplinar para orientá-los. Estou falando do Brasil e da América Latina, mas cada país e cada região tem suas particularidades e regulamentações, e ter uma estratégia de pagamento sólida pode ser a diferença entre prosperar ou fracassar.
Esses novos métodos de pagamento são capazes de facilitar os processos normalmente burocráticos entre todas as instituições envolvidas? Como?
(JP) As inovações provenientes das novas regulamentações de pagamentos no Brasil criarão um ambiente de inovação melhor e, consequentemente, aperfeiçoando e acelerando os fluxos envolvidos nos bastidores dos pagamentos digitais. Além de ter uma entidade oficial central intermediando os pagamentos instantâneos, o fator chave em torno do PIX é a interoperabilidade, que permitirá que as diferentes instituições de pagamento, como o seu banco ou sua carteira eletrônica preferida, se comuniquem instantaneamente entre si. Isso significará o fim dos inúmeros códigos QR em balcões de restaurantes e a priorização daquele que oferece melhor serviço, preço e comodidade para o cada público.
Esses novos métodos de pagamento estão disponíveis para todas as empresas ou são mais voltados para grandes corporações? Em outras palavras, eles exigem grandes investimentos?
(JP) De maneira alguma. Devemos considerar que as tendências atuais de mudanças de regulamentação de pagamentos aumentarão a competitividade e serão benéficas para todos os tipos e tamanhos de comerciantes. Desde um empreendedor solo, que poderá contar com a PIX para reduzir as taxas de aceitação do cartão de crédito, aos comerciantes globais, que poderão melhorar a experiência do cliente e ter uma gestão de operações e fluxos de caixa melhor. Neste caso, um bom exemplo é qualquer transação baseada em uma taxa mensal, como a conta de sua operadora de celular. Com os pagamentos instantâneos em vigor, você nunca mais terá que esperar que seu pagamento seja identificado. Os serviços também podem ser ativados (ou reativados em caso de contas em atraso) instantaneamente, melhorando a experiência do cliente.
As tendências atuais de mudanças de regulamentação de pagamentos aumentarão a competitividade e serão benéficas para todos os tipos e tamanhos de comerciantes
As compras de produtos feitas com dispositivos IoT e outros gadgets ainda geram muita desconfiança dos consumidores em relação à segurança dos dados. Como estamos em relação a esse tema?
(JP) Os brasileiros amam seus celulares e as redes sociais, o que os torna muito abertos a várias outras novas tecnologias. O comércio de voz já está ganhando impulso em outros mercados e deve se expandir também no Brasil. Os últimos lançamentos de produtos são mais complexos do que os anteriores e oferecem algo realmente importante para a experiência de compra: imagens. A inclusão de uma tela tornará os atendentes de voz um canal de compras mais popular.
É possível que uma solução de pagamento forneça uma boa experiência ao usuário sem eliminar os processos de segurança? Como?
(JP) Eu não diria eliminando, mas removendo o atrito. Pense na maneira como você compra algo na app store do seu smartphone hoje. A evolução da tecnologia biométrica nos torna capazes de pagar por algo usando nossa impressão digital ou apenas olhando para a câmera do telefone. Estamos removendo processos de segurança aqui? Não, estamos apenas usando a tecnologia em nosso benefício e, nesse caso com uma camada de autenticação mais segura do que digitar uma senha.
Os novos métodos de pagamento tendem a ser mais aceitos pelas gerações mais jovens, que já nasceram no contexto digital. Mas como atrair o público mais velho?
(JP) Este é, com certeza, um processo lento, mas está ganhando força. A educação é chave para alcançar as gerações mais velhas. Todos os atores que fazem parte do ecossistema de pagamentos devem trabalhar em campanhas para desmistificar os pagamentos eletrônicos, contando como funcionam, como usá-los e como eles são seguros e convenientes. A pandemia de COVID-19 alterou todos os aspectos de nossas vidas e não foi diferente com os pagamentos. O medo de se contaminar após tocar em dinheiro, cartões ou maquininhas pode ter levado as gerações mais velhas às carteiras eletrônicas e aos pagamentos contactless antes do que pensávamos.
A educação é chave para alcançar as gerações mais velhas
Qual é o papel das mídias sociais nos processos de pagamento e como elas devem evoluir no futuro próximo?
(JP) Acreditamos que o social é a nova vitrine e caminhamos em direção a um futuro onde você pode escolher e pagar por um produto dentro de uma plataforma de mídia social, oferecendo uma experiência de compra “invisível” para o usuário. A influência social é um grande aspecto de nossas vidas – os brasileiros são o segundo povo que mais tempo passa nas redes: 225 minutos por dia – e as marcas têm muito a ganhar se conseguirem fechar uma venda inteiramente por meio de uma plataforma social. Aqui no Brasil, estamos vendo os esforços do Facebook/WhatsApp para lançar um sistema de pagamentos. O WhatsApp está instalado em todos os celulares do Brasil e a opção de pagar usando o aplicativo deve se tornar muito popular no País.
E para todos aqueles que gostaram da entrevista e gostariam de saber mais sobre o assunto, não percam o Webinar “Meios de pagamento como fator estratégico para internacionalização de negócios digitais“, que acontecerá no dia 17 de setembro, quinta-feira, às 17h. Para saber mais e se inscrever, acesse: https://docs.google.