O Brasil possui potencial para as mais variadas formas de empreendedorismo. Segundo a última edição da pesquisa Monitor Global de Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM), realizada pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe), o país totalizou, em 2023, mais de 90 milhões de empreendedores e potenciais empreendedores – a segunda maior estimativa mundial, atrás apenas da Índia, com 106 milhões.
Por outro lado, o país sofre com a falta de estrutura e formação de mão de obra profissional qualificada, além de processos burocráticos e morosos. Exemplo disso foi o último ranking global de competitividade realizado pelo International Institute for Management Development (IMD), em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), que avalia 67 nações. Nele, o Brasil ocupa a 62ª posição.
Esses e outros impactos foram discutidos no painel “Inovação para todos: como o futuro da inovação no Brasil pode ampliar seu impacto na sociedade?”, durante o Fórum Inovativos, na sede da FGV, em São Paulo, que reuniu mais de 230 lideranças empresariais, sociais e acadêmicas, além de especialistas. O encontro foi mediado por Ivan Ventura, gerente de conteúdo e inteligência da Inovativos.
Marcos Moreira, diretor substituto do Departamento de Infraestrutura de Dados do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos do Governo Federal, citou exemplos de cultura ampla para o desenvolvimento de inovação e mencionou a Índia como exemplo.
“No ano passado, no encontro do G20 realizado na Índia, muito tem se falado sobre as infraestruturas públicas digitais, ou Digital Public Infrastructure (DPI). Acreditamos ser um modelo bastante habilitador porque não é o governo fazendo ou somente fomentando o desenvolvimento tecnológico. Nesse modelo, o governo cria condições para que o mercado também atue com inovação. Um caso prático é o Pix, que é um exemplo mundialmente famoso não apenas entre governos, mas a população também tem acesso a essa tecnologia e a utiliza amplamente”, explicou.
No setor de turismo, o assessor de inovação e ESG da Embratur, Caio Iglesias, destacou que a agência, responsável por promover internacionalmente o turismo brasileiro, está reforçando a estrutura que possui para atender tanto o público estrangeiro quanto os empreendedores dessa área no país.
“Estamos transformando nossos ativos culturais em produto, como é o exemplo do programa Rotas Literárias, que leva o turista para conhecer lugares frequentados pelos grandes escritores brasileiros. E para isso precisamos contar com uma estrutura robusta e parceiros que permitam evoluirmos, como startups de tecnologia, para recepcionar esse turista e gerar renda para os empreendedores”, falou para o público.
Caminhos da inovação
Joildo Santos, CEO do Grupo Cria e cofundador do G10 Favelas, bloco de líderes empreendedores das 10 maiores favelas do Brasil, explicou que a inovação nas comunidades mais carentes é um desafio pelos mais variados motivos.
“No país, a inovação está muito atrelada às formalidades jurídicas e também a processos burocráticos, o que prejudica quem reside nas periferias. Moro em Paraisópolis desde 1998 e, lá, quase 90% das moradias não são regularizadas, ou seja, as pessoas não têm escritura (do imóvel). Como elas vão obter investimentos e empreender nessas condições? Além disso, 67% das pessoas que vivem em favelas não têm contas em bancos por questões ligadas à validação biométrica, endereço, entre outros motivos. Infelizmente, o ambiente digital não é para todos. Isso dificulta a inovação”, revelou.
Sob a ótica corporativa, Daniel Sonego, IT General Manager da Azul Linhas Aéreas, afirma que a inovação é uma consequência da busca por oportunidades e precisa ser estimulada em todas as áreas de um negócio. Por outro lado, um dos obstáculos é o acesso à mão de obra qualificada.
“Acredito que essa seja uma dor de todos os segmentos do mercado. Sobre a formação de profissionais, muitos se formam e chegam sem experiência no mercado de trabalho. Nosso desafio é balancear pessoas com mais experiência, que precisam lidar com temas complexos, e aquelas mais novas, que necessitam de mais vivência e prática. Para estes últimos, trabalhamos bastante em programas de formação, de estágio e trainee, para que possam mostrar um bom desempenho”, finalizou.