Até recentemente, os métodos de avaliação do olfato, como as cartelas de papel para raspar e cheirar e os tradicionais vidrinhos de aromas, eram inviáveis para a saúde pública devido aos custos elevados e à complexidade operacional envolvida.
Diante desse contexto, médicos otorrinolaringologistas enfrentavam a carência de ferramentas adequadas para monitorar esse sentido, o que resultava em uma baixa incidência de solicitação e realização de testes de olfato. Esse cenário representava um desafio significativo para o diagnóstico de disfunções olfativas e para a detecção precoce de doenças neurodegenerativas, como o Parkinson e Alzheimer.
Multiscent20 e os cheiros digitais
Foi para preencher essa lacuna que a Noar desenvolveu um sistema de avaliação do olfato disruptivo com cheiros digitais, um caso que garantiu à empresa o primeiro lugar no Prêmio Inovativos 2023 na categoria Saúde.
“O Multiscent20 é um dispositivo de cheiro digital que utiliza cartuchos de aroma e é controlado por um aplicativo com as instruções e questões do teste’, explica Claudia Galvão, fundadora e CEO da Noar Brasil. “Um teste digital de olfato com 20 perguntas pode ser concluído em sete minutos e é tão fácil de operar que o paciente pode realizá-lo sozinho”, continua.
A CEO explica que os resultados já comparados com a curva de referência são disponibilizados online imediatamente, contribuindo para a criação do primeiro banco de dados do olfato do mundo. O aparelho se destaca pela facilidade de operação e custo-benefício, a fim de se tornar uma ferramenta viável para uso na saúde pública.
Para desenvolver a tecnologia, a Noar contou com a ajuda de médicos otorrinolaringologistas especialistas em olfato para desenvolver a metodologia utilizada no teste e para realizar os estudos de validação do aparelho.
“Dada a urgência em adquirir conhecimentos sobre o olfato gerada pela pandemia de covid-19, o time de desenvolvimento da Noar começou com um protótipo rápido de aplicativo que fosse funcional e fácil de utilizar para permitir os estudos de validação da solução e que permitissem comparar os seus resultados com os testes considerados o padrão-ouro até então”, esclarece Claudia.
O estudo de validação foi publicado na revista IFAR (International Forum of Allergy and Rhinology) e, depois de validada a ferramenta, a empresa iniciou o desenvolvimento da metodologia específica para o dispositivo com 20 questões e um aplicativo para garantir a segurança na aplicação dos testes e armazenamento dos dados, selecionando os aromas levando em consideração a familiaridade para as pessoas comuns em diferentes países e culturas.
Quanto à importância da nova tecnologia, vale ressaltar que a pandemia trouxe à tona as implicações práticas da perda do olfato no cotidiano das pessoas, aumentando a conscientização sobre os desafios enfrentados por aqueles que convivem com esse problema. No entanto, é importante destacar que muitas pessoas, especialmente as de idade avançada, podem não estar plenamente cientes de sua perda olfativa. A ausência desse sentido pode expor indivíduos a diversos perigos, como vazamento de gás, incêndios e ingestão de alimentos deteriorados. Além disso, pode desencadear distúrbios alimentares, depressão e, ao longo do tempo, contribuir para a perda cognitiva.
Por conta da rapidez e praticidade do teste digital (leva 7 minutos para ficar pronto e é auto-aplicado), várias clínicas de otorrinolaringologia e neurologia estão incluindo o procedimento em suas rotinas de consulta, identificando pacientes que necessitam de uma investigação mais profunda sobre a perda do olfato. O diagnóstico precoce da tendência a desenvolver doenças neurodegenerativas permite que os pacientes adotem boas práticas de saúde para retardar ao máximo o surgimento de sintomas que comprometem a qualidade de vida. Além disso, os resultados são disponibilizados online e passam a integrar o primeiro banco de dados sobre o olfato do mundo
“Além disso, vários estudos sobre o olfato utilizando a tecnologia foram iniciados e estão em fase de preparação, revisão ou publicação, aumentando o entendimento geral sobre esse sentido. A facilidade em coletar dados de respostas e anamnese no meio digital é um facilitador do processo, proporcionando velocidade à produção, organização e compartilhamento de conhecimento”, finaliza a CEO.”