Desafios da logística em tempos de comércio eletrônico

Logistica

O mercado de entrega de produtos mudou muito a partir da pandemia em 2020. Um número crescente de pessoas passou a fazer compras pela internet e isso mudou até mesmo comportamento de muitos clientes – tornando-os digitais praticamente do dia para noite.

 

Um levantamento feito pelo Statista, plataforma especializada em estudos sobre comportamento e consumo, mostra bem o que aconteceu no Brasil a partir do distanciamento social. O País foi responsável por quase metade dos números do delivery ou 48,77% de toda entrega feita na América Latina. Em seguida estão México e Argentina, com 27,07% e 11,85%, respectivamente. As previsões para 2021 são de mais crescimento e estimam um movimento de aproximadamente US$ 6,3 trilhões do delivery em todo o mundo até dezembro.

 

BiaOs números impressionam, porém, existem outros dados que mostram o tamanho do desafio da logística no País. “Existem vários países dentro do Brasil, inclusive quando o assunto é burocracia e questões tributárias. Precisamos rediscutir para dirimir essas questões que estão aumentando, conforme cresce a importância do comércio eletrônico”, afirma Bia Rodrigues Carvalho, CEO da GCDV e da plataforma Logísticos.

 

Aumento de pontos de entrega

 

FabioDe fato, o crescimento da logística nos últimos anos, em especial na pandemia, exibe o vigor e o impacto mencionado por Bia. Fábio Miquelin, head of transportation da DHL, lembra que a logística do passado tinha um ritmo mais lento – e isso não era um problema para o consumidor. Afinal, o ritmo do mundo era outro e a entrega acompanhava esse ritmo. “Antigamente o cliente tinha um único canal de venda, que era a loja. Ele recebia o produto em 45 dias e ficava feliz que a carga chegou. Hoje, existem vários canais e o consumidor quer que o produto chegue no mesmo dia.”, disse.

 

Ariel Herszenhorn, vice-presidente da Loggi, lembra que há algumas décadas existiam aproximadamente dois milhões de pontos de entrega no País – ou basicamente lojas que recebiam as mercadorias no País. Com o avanço do comércio eletrônico, com o perdão do trocadilho, a lógica mudou. Empresas incluíram como destino a casa do consumidor final, o que elevou a complexidade nessa atividade. “Hoje, existem 60 milhões de pontos de entrega para 210 milhões de pessoas. A complexidade começa aí. As regulamentações que existem hoje são das décadas de 1980 e 1990, mas o cenário é outro”, explica.

 

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Agora, o consumidor está verdadeiramente no centro do debate e virou o ponto final de distribuição das mercadorias. Nesse sentido, a logística ganhou evidência e hoje faz parte da jornada do cliente. “O consumidor vai ser afetado diretamente por esse movimento. Ninguém perguntava quem abastecia a gôndola ou como esse produto chegou no supermercado. Hoje a logística faz parte da realidade do consumidor e essa é uma dinâmica que tem mudado o mundo de negócio. As empresas estão sendo forçadas a serem mais transparentes. Todo arcabouço de estrutura tecnológico também precisa ser mais claro”, concluiu Herszenhorn.

 

Impostos

Outro desafio da logística, claro, é o volume de impostos. Uma das críticas é a chamada bitributação de impostos estaduais, ou seja, o fornecedor é cobrado tanto na origem (envio da mercadoria) quanto no destino (casa do consumidor ou loja).

 

FredFrederico Rezeck, diretor logístico do Mercado Livre, afirma que a empresa pagou aproximadamente R$ 1 bilhão em impostos federal, estadual e municipal somente no último ano. “É uma carga tributária pesada para uma complexidade grande da nossa atividade. A velocidade com que tudo isso aconteceu (a migração em massa para o comércio eletrônico) não foi necessariamente acompanhada pela desburocratização ou atualização sistêmica que deveríamos ter” explica.

 

Segurança pública e “sem CEP”

 

A segurança pública também foi outro tema lembrado por especialistas em logística. No ano passado, o Brasil registrou 14.159 roubos e furtos de carga no ano passado. Embora tenha ocorrido uma queda de 23% na comparação com 2019, causado evidentemente pela pandemia, o prejuízo das empresas impressiona: mais de R$ 1,2 bilhão, segundo dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logistica).

 

Iltemir.pngIltenir Junior, fundador da Qargo, cita como exemplo de risco a entrega do produto em comunidades mais carentes. “Quando falamos de segurança, um fator importante é quando a gente fala das áreas de risco de algumas comunidades. Há regiões críticas para possamos fazer entregas. Precisamos superar esse desafio para que possamos democratizar o consumo para essas pessoas”, explica.

 

Além das questões de segurança, outro fator que impede a mercadoria de chegar às comunidades mais carentes é outro fator, este menos conhecido: a existência de redutos sem CEP. É o que explica André Biselli, gerente de operações das Americanas.

 

Biseli“Nem todo mundo sabe, mas existem regiões sem CEP, como é o caso das favelas. Estamos falando de pessoas que não são atendidas pelo comércio eletrônico. Foi pensando nisso que surgiu a iniciativa Americanas nas favelas”, explica.

 

De acordo com a Americanas, a iniciativa foi instalar unidades próximos às favelas para a realização de entrega de produtos. É justamente nesse espaço que fica a última milha de pessoas que moram em comunidades.

 

Os especialistas afirmam que é preciso convocar um grande debate sobre o comércio eletrônico para que algumas normas sejam revistas a partir de um novo comportamento do consumidor, a ótica da segurança pública e questões relacionadas à cobrança de impostos. O cenário é bem diferente dos anos 1980.

 

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