Inovação Digital e Tecnologia na Centralidade do Cliente

Entenda a polêmica estratégia “AI First” adotada recentemente pela Duolingo

Empresa remove conteúdo do TikTok após críticas à substituição de contratados por inteligência artificial, gerando debate sobre o uso ético da tecnologia.

Foi em 2016, durante um evento, que Sundar Pichai, CEO do Google, afirmou: “We will move from mobile first to an AI first world”. Em uma tradução livre, isso significa algo como “Passaremos de um mundo que prioriza os dispositivos móveis para um mundo que prioriza a IA (inteligência artificial)“.

Em linhas gerais, a adoção da abordagem “AI-first” seria algo como priorizar o uso de inteligência artificial no centro da estratégia de produtos e operações. A ideia não é apenas usar IA como ferramenta de apoio, mas reposicionar toda a lógica de criação, entrega e crescimento com base em inteligência artificial.

O caso Duolingo

Após nove anos, a previsão de Pichai começa a ganhar contornos reais no mundo corporativo. A Duolingo, popular plataforma de aprendizado de idiomas, anunciou há três semanas a adoção de uma estratégia AI-First em um comunicado oficial no Linkedin da companhia.

O post era um comunicado interno assinada pelo CEO Luis von Ahn onde, entre outras coisas, ele compara a decisão atual com a adoção da estratégia mobile first em 2012. “Em 2012, apostamos em dispositivos móveis. Enquanto outros focavam em aplicativos complementares para websites, decidimos construir uma experiência mobile-first porque vimos que esse era o futuro. Essa decisão nos ajudou a vencer o prêmio de Aplicativo do Ano da App Store em 2013 e destravou um crescimento orgânico massivo”, disse no comunicado.

Luis von Ahn, da Duolingo

Abaixo, o post oficial com a estratégia AI First:

A seguir, confira a tradução do comunicado oficial:

“Já disse isso em sessões de perguntas e respostas e em muitas reuniões, mas quero tornar oficial: a Duolingo será uma empresa AI-first.

A IA já está mudando a forma como o trabalho é feito. Não é uma questão de ‘se’ ou ‘quando’. Está acontecendo agora. Quando há uma mudança desse porte, a pior coisa que você pode fazer é ficar parado. Em 2012, apostamos em dispositivos móveis. Enquanto outros focavam em aplicativos complementares para websites, decidimos construir uma experiência mobile-first porque vimos que esse era o futuro. Essa decisão nos ajudou a vencer o prêmio de Aplicativo do Ano da App Store em 2013 e destravou um crescimento orgânico massivo por indicação.

Apostar no mobile fez toda a diferença. Estamos tomando uma decisão semelhante agora, e desta vez a mudança de plataforma é a IA.

IA não é apenas um ganho de produtividade. Ela nos ajuda a chegar mais perto da nossa missão. Para ensinar bem, precisamos criar uma enorme quantidade de conteúdo — e fazer isso manualmente não escala. Uma das melhores decisões que tomamos recentemente foi substituir um processo manual e lento de criação de conteúdo por outro movido por IA. Sem IA, levaríamos décadas para disponibilizar esse conteúdo para mais alunos. Temos o dever de entregar esse conteúdo o quanto antes.

A IA também nos ajuda a construir recursos como chamadas em vídeo, que antes eram impossíveis. Pela primeira vez, ensinar tão bem quanto os melhores tutores humanos está ao nosso alcance.

Ser uma empresa AI-first exigirá repensar como muito do nosso trabalho é feito. Pequenos ajustes em sistemas criados para humanos não serão suficientes. Em muitos casos, precisaremos começar do zero. Não vamos reconstruir tudo da noite para o dia, e algumas coisas — como ensinar a IA a entender nosso código — levarão tempo. No entanto, não podemos esperar até que a tecnologia esteja 100% perfeita. Preferimos agir com urgência e aceitar eventuais perdas pequenas de qualidade do que agir lentamente e perder o momento certo.

Vamos adotar algumas diretrizes para nos ajudar nessa transição:

  • Vamos gradualmente deixar de contratar para funções que a IA pode desempenhar;
  • O uso de IA será um dos critérios de contratação;
  • O uso de IA será avaliado em revisões de desempenho;
  • Novas contratações só acontecerão se a função não puder ser automatizada por IA;
  • A maioria das funções terá iniciativas específicas para mudar fundamentalmente a forma como trabalham.

Dito isso, a Duolingo continuará sendo uma empresa que se importa profundamente com seus funcionários. Isso não é sobre substituir Duos [funcionários] por IA. Trata-se de eliminar gargalos para que possamos fazer mais com os incríveis Duos que já temos. Queremos que vocês se concentrem em trabalho criativo e problemas reais — não em tarefas repetitivas. Vamos oferecer treinamento, mentoria e ferramentas para apoiar o uso de IA nas suas funções.

Mudanças podem ser assustadoras, mas estou confiante de que essa será uma grande evolução para a Duolingo. Vai nos ajudar a cumprir melhor nossa missão — e, para os Duos, significa se manter na vanguarda do uso dessa tecnologia para realizar o trabalho.”

Críticas

Após o comunicado, a empresa passou a enfrentar uma onda de críticas nas redes sociais.

A reação foi imediata nas redes sociais, especialmente no TikTok, onde a empresa possui quase 17 milhões de seguidores. Usuários expressaram preocupação com a substituição de humanos por máquinas e a possível perda de qualidade no conteúdo. Em resposta, a Duolingo removeu todos os seus vídeos da plataforma, deixando apenas um, no qual um membro da equipe de mídia social, usando uma máscara do mascote Duo, critica a decisão da liderança e afirma que “é hora de mostrar quem está no comando”.

A empresa defende que a mudança permitirá aos funcionários focar em tarefas criativas, enquanto a IA cuidaria de processos repetitivos. No entanto, a controvérsia destaca os desafios éticos e sociais da automação no setor educacional.

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