Inovação Digital e Tecnologia na Centralidade do Cliente

Bytes, boletos e o tempo: a história do e-commerce e dos meios de pagamento no Brasil

Uma linha do tempo entre tecnologias e transações que mostra como o e-commerce e os meios de pagamento moldaram - e continuam moldando - o Brasil digital

Com a devida licença poética, é possível afirmar que tanto a internet quanto o Big Bang compartilham uma característica essencial: ambos nasceram em pequenos pontos e explodiram para grandezas inimagináveis.

Logo após o Big Bang, o universo cresceu de um ponto menor que um átomo para o tamanho de uma galáxia em menos de um trilionésimo de segundo. A internet, em seus primeiros anos, não seguiu o mesmo ritmo, porém a velocidade foi igualmente impressionante: levou apenas quatro anos para ultrapassar 50 milhões de usuários e multiplicou seus sites de algumas centenas para milhões em menos de uma década.

Dentro desse universo digital em expansão, o comércio eletrônico — apoiado por meios de pagamento — seria como um sistema solar, uma engrenagem essencial da chamada World Wide Web. No entanto, diferentemente do cosmos, olhar para o passado da internet e do e-commerce é bem mais fácil. Será?





Expansão em números

Neste episódio do podcast Inovativos, olhamos presente, passado e futuro dos meios de pagamento e, em paralelo, o desenvolvimento do próprio comércio eletrônico.

Mediado por Ivan Ventura, gerente de conteúdo e inteligência da Inovativos, Angela Ferrante diretora financeira da Enjoei, Thiago Medeiros, diretor de desenvolvimento de negócios da Worldpay, Ricardo Kaoru, CEO da ConectCar, e Fabio Itikawa, CFO da Espaçolaser, foram os senhores do tempo no nosso papo, os zeitgeists de como se comportou um dos pilares da internet nos últimos anos.

A análise dos participantes teve como ponto de partida a 10ª edição do Global Payments Report, estudo produzido pela Worldpay em parceria com a consultoria McKinsey: 48% dos pagamentos na América Latina já são digitais. No entanto, há 10 anos, o dinheiro predominava.


Os primeiros desafios

Mas como dinheiro físico e internet se comunicavam nos primeiros anos da internet no Brasil? No início, os desafios eram grandes.

Especialistas contam que o primeiro desafio era o baixo número de pessoas bancarizadas no Brasil. Quando a internet comercial foi liberada no Brasil, em 1995, apenas cerca de 25% da população (algo em torno de 40 milhões de pessoas) era bancarizada, segundo dados do Banco Central.




“Hoje, o Brasil é um dos países mais bancarizados do mundo, muito devido ao PIX e outros fatores. Mas, no início, o (primeiro) desafio (do comércio eletrônico) era o baixo número de bancarizados. Além disso, havia a dúvida: como eu vou pagar? Você tinha um cartão de crédito, que era praticamente o único método de pagamento do e-commerce, ou um boleto. Aliás, sobre cartão, naquele tempo, algumas vezes alguém te ligava para coletar os dados do cartão — e as pessoas passavam com a maior tranquilidade. Hoje é impensável isso”, explica Thiago Medeiros.


No início, havia ainda a dificuldade técnica, como criar um website. Hoje, uma inteligência artificial é capaz de desenvolver uma plataforma inteira em poucos segundos.

Outra limitação técnica, segundo Ricardo Kaoru, está relacionada à escassez de máquinas para se conectar à internet. Em 2000, segundo dados do IBGE, apenas 10,6% dos domicílios brasileiros possuíam computador.

“Para um e-commerce, uma das condições mínimas era ter um computador, porém não havia tantas pessoas com PCs. Na época, para compensar, você tinha o cyber café ou lan house para quem não tinha computador em casa. O segundo ponto é que os primeiros e-commerces e marketplaces eram apenas um dos canais de venda de uma loja física. Ou seja, no início, não havia venda de fato”, destaca.



Os primeiros e-commerces e o principal desafio

No início, os primeiros e-commerces de sucesso estavam relacionados à venda de livros. Foi assim com a Amazon, que foi fundada em 1994 por Jeff Bezos e começou a operar oficialmente em 1995 como uma livraria online. A ideia inicial de Bezos era vender um catálogo imenso de livros – muito maior do que qualquer livraria física poderia oferecer.



No Brasil, a extinta Booknet foi a Amazon brasileira. Ela foi uma espécie de livraria virtual que acabou comprada pela Submarino em 1999. A lista de pioneiras, que inclui a Shoptime (que, embora conhecida por vender produtos por telefone, também teve uma operação de e-commerce) e o Magazine Luiza, tinha ainda uma loja mais conhecida pelo consumidor paulistano, segundo lembra Angela Ferrante.

“Eu trabalhei no UOL entre 1999 e 2006. Lá, participei de reuniões para construir o Shopping UOL. Na época, pensei: ‘Que mundo é esse que nós estamos desenhando, que as pessoas não saem de casa para comprar um tênis?’ Era algo bem doido. Ainda no início, eu consigo lembrar de algumas primeiras lojas no UOL. Havia uma de flores online que não lembro o nome, a Clovis Calçados e tinha uma de eletrodomésticos também”, disse.


O maior desafio, no entanto, ainda é a desconfiança em comprar pela internet. Antes, a desconfiança estava relacionada à novidade.


“O e-commerce tinha uma grande barreira, que era a desconfiança do consumidor. Ele tinha receio de comprar via e-commerce porque não sabia se iria receber o produto ou mesmo se o produto, de fato, era original. Além disso, sobre os meios de pagamento, também havia essa desconfiança. Afinal, como é que eu sei se será processado o pagamento? Será que meus dados não vão ser roubados? Hoje em dia, se você pegar um determinado grupo de consumidores, isso ainda resiste.”, explica Fabio Itikawa.

A confiança melhorou nos últimos anos, porém ela ainda se depara com ataques cibernéticos e fraudes de grupos organizados. Se antes a relação era “no fio do bigode”, segundo diziam os antigos, a construção “no fio da internet” parece caminhar para investimentos em sistemas de segurança e mecanismos de cobrança mais seguros. Esse é um dos desafios de uma contínua expansão desse universo chamado internet.




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