A chegada do Drex é aguardada com grande expectativa, já que promete transformar a forma como o dinheiro é utilizado. Para empresas e consumidores, a moeda digital brasileira permitirá a realização de pagamentos e transferências mais rápidas e eficientes. Já para as instituições financeiras, a expectativa é que o real digital promova novas oportunidades de negócios e serviços financeiros que atendam melhor às necessidades dos seus clientes.
Mas o que os bancos realmente esperam do Drex? Como eles estão se preparando para explorar todas as potencialidades do real digital? Quais os principais desafios deverão ser enfrentados? Para responder a essas e outras questões, a Febraban Tech 2024 promoveu uma série de painéis sobre o Drex, apontado (além da tecnologia blockchain) como prioridades estratégicas para 56% dos bancos brasileiros ouvidos na 1ª etapa da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2024, realizada pela Deloitte.
Segunda fase vem aí
Atualmente, o Drex encontra-se no final de sua primeira fase de testes, na qual 16 consórcios participam do projeto piloto. Esta etapa, de forma geral, abrange a validação de questões relacionadas à privacidade e segurança dos dados, além dos testes da infraestrutura da plataforma.
Durante a Febraban Tech 2024, o coordenador do Drex no Banco Central (Bacen), Fabio Araujo, disse que a segunda fase do real digital – que deve durar de 12 a 14 meses – começa ainda no segundo semestre, quando haverá uma chamada pública para a entrada de novos consórcios da iniciativa privada.
Na segunda fase, novos casos de uso serão incorporados à plataforma, inclusive ativos não regulados pelo Bacen – o que prevê, também, a incorporação de reguladores como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). “Precisamos de casos de uso diversos. Dessa forma, a ideia é absorver o maior número possível de consórcios”, afirmou Araujo.
Simulador para funcionários
O Banco do Brasil (BB) é uma das instituições que fazem parte do piloto do Drex, comandado pelo Banco Central. Também durante a Febraban Tech, o banco divulgou que começou a testar um simulador para a interação com a plataforma do Drex, que será utilizado pelos funcionários da área de negócios.
A plataforma simula a emissão, o resgate e a transferência de Drex, além da realização de operações com títulos públicos federais tokenizados. “A familiaridade com esses procedimentos é importante, pois, para acessar a plataforma Drex, os usuários precisarão de um intermediário financeiro autorizado”, destacou Rodrigo Mulinari, diretor de tecnologia do BB.
Oportunidades e desafios
Entre os principais atributos positivos do Drex, estão a agilidade nas operações, a possibilidade de utilização global sem barreiras significativas, uma infraestrutura de segurança robusta que desencoraja fraudes e a notável redução de custos associados a movimentações financeiras.
De acordo com Carolina Sansão, diretora-adjunta de Inovação, Tecnologia e Cyber da Febraban, o Drex viabilizará uma série de novos negócios. “Se a compra de um ativo hoje pode demorar um, dois dias para ser executada, quando eu coloco uma plataforma como o Drex posso ter uma liquidação tão rápida quanto tenho com o Pix, uma orquestração mais rápida dentro desse mercado”, exemplificou.
Outros potenciais benefícios do Drex foram destacados por Renata Petrovic, head of Inovabra Habitat & Open Innovation do Bradesco. Na opinião da executiva, além de maior agilidade e redução de custos, o real digital também colaborará para a recuperação de crédito com mais eficiência, além de trazer mais segurança para as empresas.
“No Bradesco temos um time dedicado para ativos digitais. É um tema cujo processo de aculturamento deve ser estendido para todas as equipes”, ressaltou Renata.
Mas apesar do Drex abrir novas oportunidades de negócios e serviços financeiros para os bancos, também há desafios a serem enfrentados. Entre os principais obstáculos, destacam-se: a integração tecnológica entre variados participantes do mercado econômico; a garantia de que todos, independentemente de localização ou do status socioeconômico, tenham acesso à moeda digital; a preservação da segurança e da privacidade dos dados dos usuários, além do fomento da educação financeira para a adoção responsável do Drex.
Para Vito Castanha, gerente sênior do Santander, outro desafio relevante ainda é o baixo conhecimento do Drex por parte dos brasileiros. “Com isso, a segurança em uma nova economia tokenizada será um motivo de preocupação, o que pode talvez impedir sua adoção massiva”.
Nesse ponto, segundo Clarissa Souza, coordenadora de Tecnologia do Bacen, “foram escolhidas soluções de privacidade que estão evoluindo ao longo do tempo. Não podemos desperdiçar essa oportunidade do que o Drex poderá trazer de ganhos para a população”, concluiu.