Inovação Digital e Tecnologia na Centralidade do Cliente

Web3: descentralização e privacidade marca nova fase da internet

A Web 3 surgiu para juntar a descentralização, permitida pela tecnologia de blockchain, e fortalecer ainda mais o conteúdo pelos usuários, dando a eles poder e permitindo o gerenciamento dos próprios dados. Outra característica da Web3 é a virtualização, ou seja, ela amplia as possibilidades de ações no espaço virtual – o metaverso é um dos principais exemplos.

Quando, em 1909, o poeta italiano Filippo Marinetti escreveu o Manifesto Futurista, atraiu uma série de olhares a favor e contra ao pregar um desprezo pela tradição e a valorização da tecnologia. E qual era essa tecnologia? A relacionada à segunda revolução industrial que trouxe a eletricidade, o automóvel, o cinema, entre outros. E o que esperar dessa nova era de revoluções no mundo digital que vivemos e vamos vivenciar?

Não é preciso escrever nenhum manifesto, basta dar uma lida em uma pesquisa realizada pela Visa, no início deste ano. Ela mostrou as principais tendências que vão definir o futuro da movimentação de fundos e do comércio, como a virtualização do dinheiro, identidade digital, dados abertos e blockchain. A perspectiva é de que várias tecnologias permitirão novas formas de trocar valor, transformando o comércio em espaços abertos e hiperintegrados, e impulsionando um ecossistema financeiro descentralizado, o que exigirá mais interoperabilidade e flexibilidade entre as empresas do setor.

A Web3, conhecida como a “nova fase da internet”, é uma delas. Se na Web 1.0 a premissa era o compartilhamento de informações e na Web 2.0 o foco foi a importância do conteúdo gerado pelo usuário, a Web 3 surgiu para juntar a descentralização, permitida pela tecnologia de blockchain, e fortalecer ainda mais o conteúdo pelos usuários, dando a eles poder e permitindo o gerenciamento dos próprios dados.

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“Pela ótica do usuário, a propriedade digital passará a ser uma realidade, da mesma forma que o autogerenciamento de identidade e o compartilhamento com consentimento, além de uma navegação mais integrada por meio de apps descentralizados”, disse Marcos Carvalho, diretor-geral do Movimento Inovação Digital (MID), que mediou o painel “A próxima era das relações digitais: Web3 e a descentralização através das tecnologias”, na quarta edição do Club iX de 2023.

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Segundo ele, é importante entender o que vem pela frente nas relações digitais, o que está na vanguarda, para que seja possível não apenas compreender o cenário atual, mas também se antecipar e gerar oportunidades e insights que possam contribuir para a transformação das empresas. “A pressão para que a Web3 aconteça é para que as pessoas parem de depender da boa fé e do planejamento estratégico das grandes empresas de tecnologia. Com ela, somos donos de todos as nossas informações, tendo o controle de habilitar quem as vê”, completou Kenneth Corrêa, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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Ao lado da descentralização e da privacidade, outra característica da Web3 é a virtualização, ou seja, ela amplia as possibilidades de ações no espaço virtual – o metaverso é um dos principais exemplos. “Ainda há a interoperabilidade, a capacidade do usuário de poder migrar de plataformas”, destacou Matheus Bombig, cofundador da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) e da Surf Junkie Club.

Mais agilidade e transparência

Para o desenvolvimento da Web3, o blockchain é fundamental. Isso porque é uma tecnologia que consiste em blocos de informações interligados por meio de criptografia, formando uma cadeia imutável de transações. Devido à sua natureza descentralizada, garante mais confiança, transparência e resistência a fraudes, tornando-se a base para a revolução digital em diversos setores. De acordo com o Gartner, a economia baseada em blockchain, da qual a Web3 está incluída, deve movimentar mais de R$ 14 trilhões até 2030.

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“O blockchain vai mudar a vida das pessoas, sobretudo no aspecto financeiro, já que permite transações de maneira rápida, fácil e transparente. E os games podem servir como onboarding, principalmente por conta da sua usabilidade, baixa fricção e familiaridade”, afirmou Heloísa Passos, CEO da Trexx, startup brasileira de jogos em blockchain que, recentemente, foi a vencedora de uma competição internacional de solução financeira Web3 da rede Ethereum realizada em Singapura.

Os próprios jogos possuem estruturas para suportar transações financeiras feitas por meio dos jogadores, ou seja, sem intermediários como bancos. A operação ocorre por meio dos NFTs (tokens não fungíveis, em português), que são a representação de um bem no ambiente virtual. “O NFT nada mais é do que o ativo digital registrado no blockchain. Isso permite uma infinidade de aplicabilidades”, disse Matheus, da AB2L.

Vale ressaltar que os NFTs são projetados para serem exclusivos, cada um contendo informações específicas que os diferenciam uns dos outros. Além dos jogos, essa tecnologia tem se destacado no mercado de arte e no entretenimento, proporcionando novas formas de monetização e autenticação de conteúdos digitais.

Independente e universal

As principais criptomoedas do mercado, que possuem compatibilidade com carteiras digitais, podem integrar a Web3. Funcionando em um ambiente descentralizado, essas moedas não dependem de uma autoridade central – como bancos ou governos –, tornando-se um meio de troca independente e global.

rodrigo ikegaya

“As criptos são moedas digitais que utilizam blockchain e certamente irão contribuir para solucionar muitos dos problemas de pagamentos e transferências da economia global”, frisou Rodrigo Ikegaya, diretor de produtos da Foxbit, exchange brasileira que já possui cerca de 1 milhão de clientes cadastrados.

No Brasil, o Banco Central já desenvolve a sua própria moeda digital. Chamada Drex (veja mais na matéria da página 14), o real digital também poderá integrar a Web3 no futuro. Seu lançamento está previsto para 2024 e diversas instituições bancárias e empresas já desenvolvem soluções e propostas para sua utilização. Uma delas é a Foxbit.

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“É uma honra estar ao lado do Banco Central nos testes do real digital. Trata-se de uma oportunidade de usar a nova infraestrutura do Drex para construir produtos e serviços que ainda não estão à disposição do brasileiro”, disse João Canhada, fundador e CEO da Foxbit, durante talk-show no Club iX apresentado por Ivan Ventura, gerente de conteúdo e inteligência do MID e do Grupo iX.

Na visão de Heloísa, da Trexx, entre três e cinco anos a Web3 terá uma adoção bem mais massiva. “O crescimento vai decorrer da capacidade de entregar mais usabilidade para as pessoas”.

“As transformações não são mais lineares e não demoram mais décadas para acontecer; são exponenciais”, finalizou Marcos, do MID, reforçando a importância de experimentar e testar as novas tecnologias. “Isso vai te inserindo nesse ecossistema e você vai começar a entender o poder de impacto nos negócios”.

Leia outras reportagens na edição 12 da Inovativos

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